sexta-feira, 20 de julho de 2012


E se os presbiterianos mudarem de posição em relação à ordenação feminina não deve implicar que necessariamente devam mudar a posição em relação à ordenação gay?

Definitivamente NÂO!

Sabe-se que um dos argumentos mais comuns ouvidos nos últimos tempos dos proponentes da ordenação gay é alguma coisa assim:

Os presbiterianos antigamente se opunham à ordenação de mulheres com base na Bíblia. Mas apesar do ensino bíblico contrário, agora eles ordenam mulheres. Assim será com a ordenação de gays e lésbicas. Com o tempo se convencerá que se devem ordenar gays. É inevitável.

Essa palavra é apropriada pelos que esposam posição contrária à ordenação feminina e utilizada até para intimidar os favoráveis à ordenação de mulheres. Chegam ao ponto de vaticinarem que um expediente deve seguir-se ao outro, quando muito não imediatamente, mas seguramente a certo prazo.

De certo modo, superficialmente tais argumentos da analogia e do perigo parecem convincentes. É verdade que os presbiterianos historicamente se opuseram à ordenação de mulheres, mas agora eles as ordenam em várias partes do mundo.

Façamos uma tentativa de situar a questão, como vista antigamente e hoje em dia. Antigamente, é fato, toda a família de igrejas reformadas e presbiterianas não aceitava a prática. As primeiras a aceitarem foram as igrejas que abraçaram uma base confessional mais ampla e admitiram uma teologia mais avançada. Seria até correto constatar que as igrejas presbiterianas que admitem coexistência com o liberalismo teológico foram as primeiras a admitirem a ordenação feminina. Entretanto, nos EUA, por exemplo, não é apenas a PCUSA quem aceita a ordenação feminina, juntamente com as igrejas reformadas historicamente mais progressistas, mas a Igreja Presbiteriana Evangélica – EPC e a Igreja Cristã Reformada da America do Norte – CRCNA passaram ultimamente a adotarem a prática. Na França não só a Igreja Reformada da França é adepta da prática mas a denominação historicamente não identificada com o pluralismo teológico, mas decididamente “reformada confessante”, abriu-se recentemente. E esse fenômeno tem sido repetido mundo afora.

Também é correto informar que há denominações presbiterianas majoritariamente avessas à prática dentre as quais no contexto norte-americano temos as pequenas porem não inexpressivas, PCA e OPC, que juntamente com outras minúsculas denominações presbiterianas e reformadas (essas pequenas e inexpressivas...) rejeitam a ordenação de mulheres.

É certo que vemos nossa cultura se movendo ràpidamente no sentido de normalizar a homossexualidade. Essa tendência não há dúvidas acompanha a de rejeitar certas barreiras que se opõe à participação da mulher no mercado do trabalho ou mesmo de certos redutos culturais exclusivamente masculinos. Isso tem preocupado com razão a muitos presbiterianos. De fato, estamos convencidos de que é irreversível o fato de que dentro de tempo relativamente curto haverá denominação presbiteriana, ou um grande grupo que dentro dela, ordenando gays e lésbicas.

Mas a analogia entre a ordenação das mulheres e a ordenação de homossexuais ativos é algo muito falho. É perfeitamente lógico para uns endossarem a ordenação das mulheres e se oporem à ordenação de homossexuais ativos.

Há uma razão muito simples para isso. O “problema feminino” tem a ver com a questão de incluir ou excluir pessoas com base em sua identidade. As mulheres foram impedidas do exercício do ministério ordenado, não por que tenham feito ou deixado de fazer algo, mas simplesmente por causa de seu gênero. O “caso dos gays”, ao contrário, é acima de tudo por causa do seu comportamento, e não por causa de identidade.

Por enquanto, por exemplo, na Igreja Presbiteriana do EUA (PCUSA), uma pessoa com uma orientação homossexual não está impedida de ser ordenada se essa pessoa prometer viver uma vida casta. É somente a intenção da pessoa de se envolver com o comportamento homossexual que a/o proíbe de ser ordenado(a).

Além disso, talvez o mais importante, a analogia entre a ordenação das mulheres e a ordenação dos gays é falha porque implica que o ensino bíblico acerca de mulheres no ministério é mais ou mais menos similar ao ensino bíblico sobre os gays no ministério. Isso é raso, totalmente falso e comprometedoramente desonesto. Pior: isso implica em ignorar as enormes diferenças entre o ensino bíblico sobre as mulheres e o ensino bíblico sobre os homossexuais. Permita-se explicar.

O argumento bíblico contra a ordenação de mulheres depende primeiramente de três textos do Novo Testamento: I Coríntios 11:2 - 16 (véu das mulheres); 1 Coríntios 14:34 - 35 (silêncio das mulheres); 1 Timóteo 2:11-15 (silêncio das mulheres). Os oponentes da ordenação das mulheres freqüentemente apontarão Efésios 5:21- 33 (submissão das esposas aos maridos) e Genesis 2 (criação secundária das mulheres) para apoiar sua posição, tanto quanto também aduziriam a escolha de Jesus de doze homens como seus discípulos mais íntimos. E ai encerra o argumento.

Ora, por sinal, quem admite a ordenação feminina, crê que todas estas passagens bíblicas, quando corretamente compreendidas, ao invés de combater a ordenação feminina, na verdade a podem apoiar! Mas, há que se admitir que, superficialmente, I Coríntios 12, I Coríntios 14 e I Timóteo 2, aparenta opor-se a esta prática.

Contudo, deixando por enquanto de lado a exegese e hermenêutica, mais acurada delas, essas passagens mencionadas não é tudo o que a Bíblia tem a dizer sobre as mulheres em posições de autoridade no Reino de Deus.

É inescapável atentar-se para muitas passagens que retratam mulheres em posições de autoridade ou fornece sustentação teológica para esta perspectiva. Seguem algumas dessas principais passagens:

Gênesis 1:26-28 – O homem e a mulher foram criados como imagem de Deus; ao homem e à mulher são dados o mandato de encher a terra e de dominá-la.

Gênesis 2:18 - A mulher é criada como “ajudadora” do homem. A palavra hebraica ‘ezer, para “ajudadora” quase sempre se refere a uma pessoa mais forte, e, no Antigo Testamento, geralmente se aplica a Deus.

Juízes 4-5 – Débora foi uma profetiza e juíza de Israel, com óbvia e divinamente endossada autoridade sobre homens israelitas.

Lucas 8:1-3 – Jesus tinha muitas mulheres entre o seu séquito de discípulos.

João 20 – Jesus ressurreto escolhe uma mulher para ser a primeira “evangelista” a dat testemunho de sua ressurreição.

Atos 2:17 - 18 – No cumprimento da profecia de Joel, o Espírito Santo é derramado sobre homens e mulheres, e indica-se que as mulheres profetizariam.

Romanos 16:1-2 – Febe é apresentada como “ministro” (Gk. diakonos), alguém cuja autoridade deveria ser respeitada pela igreja de Roma.

Romanos 16:7 – Júnias é citado junto com Andrônico como proeminente apóstolo.

I Coríntios 7:4 – A esposa tem autoridade sobre o corpo de seu marido, tanto quanto ele tem autoridade sobre o corpo dela.

I Coríntios 11:5 – Mulheres oram e profetizam na igreja.

Filipenses 4:2-3 – Evódia e Síntique são lideres na igreja de Filipos e cooperadores de Paulo.

Tito 2:3 – Mulheres idosas “ensinam o bem” ou são “mestras do bem”.

Apocalipse 2:18-29 – A igreja em Tiatira aceita uma mulher como profeta e mestre. Essa aceitação nunca é criticada e sim o conteúdo de seu ensino.

Naturalmente, os aderentes da abertura para a possibilidade da ordenação feminina poderiam apontar muitas outras passagens que, na opinião deles, apóiam o ministério feminino, e conseqüentemente a sua ordenação. E, naturalmente, há que se compreender que quem se opõe à ordenação das mulheres tem seus próprios modos de interpretar as citadas passagens. Fato é, porém, que mesmo os mais intransigentes oponentes da ordenação feminina hão de admitir que algumas destas passagens, pelo menos superficialmente, sugerem que Deus pode usar mulheres em posições da autoridade no Ministério, ou mesmo em posições de autoridade acima dos homens.

Quando o assunto vira para a homossexualidade, será que se encontra tal divisão em relação a isso no que tange ao ensino bíblico? Não, de jeito nenhum. Aqui vão alguns fatos básicos:

- Todas as vezes que a Bíblia fala diretamente sobre a atividade homossexual, ela a considera pecaminosa.

- Quando a Bíblia fala explicitamente sobre o sexualidade humana, sempre o faz no contexto apenas do relacionamentos heterossexual.

- Duas passagens do Novo Testamento (Romanos 1 e I Coríntios 6) parecem considerar todo o comportamento homossexual pecaminoso. Aliás, falar em parece é uma maneira polida de argumentar, na verdade, diversos eruditos bíblicos demonstram que não é só aparência, mas de fato significa essas passagens bíblicas pretendiam (pretendem) realmente indicar exatamente isso (Richard Hays, N.T. Wright, Robert Gagnon, J.G. Dunn etc.).

- Em nenhuma parte das Escrituras há uma pessoa homossexual retratada explicitamente como líder no Reino de Deus.

Assim, enquanto os proponentes da ordenação das mulheres evocam muitas passagens bíblicas como testemunhas para sua posição, os proponentes da ordenação gay não têm nenhuma passagem bíblica específica ao lado deles. Podem-se encontrar proponentes formulando suas posições com base em argumentos do silêncio, como: “Jesus nunca condenou o comportamento homossexual”. Isso é verdade. Mas também nunca condenou o abuso de criança, poluição do meio-ambiente ou o próprio racismo. Dessa maneira, devemos desconfiar dos argumentos do silêncio, especialmente quando, por tudo o que sabemos da Escritura e por tudo podemos saber das posições culturais prevalecentes nos seus dias, tudo enfim vai no sentido de que Jesus jamais aprovaria o comportamento homossexual.

O fato de a Bíblia nada oferecer de específico para ajudar os proponentes da ordenação gay explica, na maior parte das vezes, por que eles já não tentam mais interpretar a Escritura em proveito deles. Simplesmente não conseguem qualquer ajuda para seu argumento. A única maneira de se conseguir fazer a Bíblia apoiar a homossexualidade é apontar às passagens que recomendam amor ou justiça, e então defender que é amável e justo aprovar a ordenação de homossexuais ativos. Mas esta interpretação do amor e da justiça vai de encontro com o ensino da Escritura. Não se está amando nem se está sendo justo por justamente aprovar aquilo que justamente a Bíblia revela ser pecado.

Embora não reivindiquemos o dom da profecia ou vidência, pensamos que é altamente improvável que presbiterianos que confessem a autoridade plena da Escritura endossem a ordenação de gays e lésbicas ativos, mesmo que possam endossar a ordenação de mulheres. De uma perspectiva social e cultural, esses dois temas que imbricam a ordenação poderiam ser olhados de forma similar. Mas de uma perspectiva bíblica são radicalmente diversos.