terça-feira, 1 de novembro de 2011

Os Princípios, os Pilares, da Reforma: Penicilina para o Mundo!

Introdução
A penicilina interfere, se infiltra, mata ou inibe micro-organismos e auxilia o corpo doente a se curar.

É um procedimento padrão nos dias de hoje, principalmente quando se procura o tratamento de saúde pelo SUS. No caso de qualquer infecção, procura-se o médico que logo prescreve a boa e velha “benzetacil”. Tem explicações e motivos óbvios: esse é o tratamento mais eficaz no Brasil, a “empurro-terapia”. Mas não falemos do que implica nisso, mas do que essa benção preciosa significa, que se deve não, como se diz por ai, ao acaso, mas à divina providência. Fato que é assim que é aplicada, por “empurro-terapia”, a salvação para os pobres, a “penicilina” (penicilina é só outro nome do benzatacil), em quatro horas verifica-se a melhora.
A penicilina, aliás, é o antibiótico derivado do cogumelo do gênero Penicillium. Descoberta de modo “acidental” por Alexander Fleming (1881-1955), em 1928, ao observar que colônias de bactérias Staphylococcus aureus não cresciam em áreas contaminadas pelo mofo verde, Penicillium nonatum. Foi administrado ao homem pela primeira vez em 1941, e constitui um dos medicamentos mais utilizados contra as doenças infecciosas.
O tratamento pela penicilina se caracteriza pelo efeito de interferência, de infiltração, nos micro-organismos, matando-os ou inibindo seu metabolismo, comprometendo a sua reprodução, e permitindo ao sistema imunológico do corpo doentee combatê-los com maior eficácia.
Quando preparava este estudo me ocorreu essa ideia de comparar os princípios da Reforma: Sola Fide, Sola Gratia, Sola Scriptura, Solo Christus e Solus Deo Gloriae, os Cinco Sola, à penicilina. Salienta-se que o estabelecimento desses princípios, ou pilares, da Reforma, seguiu a pedra de toque, o principio ativo antibiótico, da justificação pela fé somente em Cristo. Mas podemos falar nos Seis Pilares da Reforma, se aos Cinco Sola incluirmos o Sacerdócio Universal dos Crentes. Todos tem o seu fator antibiótico ou pro-biótico, se preferirem, mas seguramente o principio mais ativo contido nesses Pilares da Reforma é a doutrina da justificação.
A Bíblia de Estudo de Genebra ensina que essa doutrina é “o núcleo tormentoso da Reforma”. Para Paulo era o âmago do evangelho (Rm 1:17; 3:21-5:21; Gl. 2:15-5:1), e o que dava forma à sua mensagem (At. 13:38-39) e à sua devoção (2 Co 5.13-21; Fp 3:4-14). Pode assim ser definida:
“O ato de Deus pelo qual ele perdoa pecadores e os aceita como justos por causa de Cristo. Por esse ato, Deus endireita permanentemente o anterior relacionamento alienado que os pecadores tinham com ele. Essa sentença justificadora é a concessão por Deus de um status de aceitação de pecadores por causa de Jesus Cristo (2 Co 5:21)”
A Confissão de Fé de Westminster ensina que a doutrina da justificação traz-nos o conhecimento de que
Capitulo 11 – Da Justificação
V. Deus continua a perdoar os pecados dos que são justificados. Embora eles nunca poderão decair do estado de justificação, poderão, contudo, incorrer no paternal desagrado de Deus. e ficar privados da luz do seu rosto, até que se humilhem, confessem os seus pecados, peçam perdão e renovem a sua fé e o seu arrependimento.
Ref. Mat. 6:12; I João 1:7, 9, e 2:1-2; Luc. 22:32; João 10:28; Sal. 89:31-33; e 32:5.
Se há um diagnostico sombrio a fazer é que o pecado, como o Staphylococcus aureus tem se instalado na humanidade e tem infectado todas estrutura social, já dizia o Profeta Isaias,
“Ai desta nação pecaminosa, povo carregado de iniqüidade, raça de malignos, filhos corruptores! Abandonaram o Senhor; blasfemaram do Santo de Israel e voltaram para trás. Por que haveis ainda de ser feridos?
A cabeça toda está doente, todo o coração enfermo. Desde a planta do pé ate à cabeça não há nada são; senão feridas e contusões e chagas inflamadas (tumores aureus, purulentos) uma e outras não espremidas, não atadas (ferimentos abertos, que não foram limpos nem enfaixados) nem amolecidas (nem tratados) com óleo (azeite).
A vossa terra está assolada (devastada),.. ‘Só restou a cidade de Sião como tenda numa vinha, como abrigo numa plantação de melões, como uma cidade sitiada’. (Versão ARA, exceto parte final da Versão Sociedade Bíblica Britânica).
Isaías 1:4-8
Mas se há palavra boa para trazer diante desse quadro, é:
“justificados pois mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” – Rm 5:1;“... nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.
Hoje é dia de lembrarmos que “É evidente que, pelas obras da lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o ‘justo viverá pela fé’” – Gl 3:11 e “ninguém será justificado diante dele por obras da lei”, por que “em razão da lei” só vê vem o conhecimento do pecado” – Rm 3:20.

1. Fatores desencadeadores da Reforma
A infecção traz o estado de coisas que se define como urgente: é tratamento ou a morte! Os fatores que desencadearam a Reforma eram sintomáticos, o crescente desprestígio da igreja do Ocidente, mais interessada, nos séculos XIV e XV, no próprio enriquecimento material do que na orientação espiritual dos fiéis; a progressiva secularização da vida social, imposta pelo humanismo renascentista; e a ignorância e o relaxamento moral do baixo clero, mas logo se detecta que o problema foi a ausência da doutrina da justificação pela fé, provocada pelo abandono das Escrituras e o desprezo pelo papel de Cristo na mediação entre Deus e os pecadores, e a inversão da glória ao homem que deveria ser dada a Deus.
A Reforma, pois, foi o movimento que ao longo do século XVI e, ultrapassando questões disciplinares, deixou à mostra problemas doutrinários de transcendência vital para o cristianismo. As profundas divergências levaram à cisão de algumas igrejas que foram chamadas, de forma global, de protestantes.

2. Antecedentes da Reforma.
Nas últimas décadas da Idade Média, a igreja ocidental viveu um período de decadência que favoreceu o desenvolvimento do grande cisma do Ocidente, registrado entre 1378 e 1417, e que teve entre suas principais causas a transferência da sede papal para a cidade francesa de Avignon e a eleição simultânea de dois e até de três pontífices. Talvez esse tenha sito o ponto que mais denunciava a possibilidade de uma septicemia.
O estado era triste, as partes boas da Igreja, não purulentas, lembrando a contaminação pelo Staphylococcus aureus, aureus aqui lembra o amarelo, o dourado da excreção que a infecção provoca, eram poucas situadas nas comunidades isoladas e nos mosteiros aonde alguns santos tinha contato com a Palavra de Deus. Sião estava muito distante da realidade da Igreja.
A esse estado se segue um período febril que começa com o surgimento do "conciliarismo" -- doutrina decorrente do cisma, que subordinava a autoridade do papa à comunidade dos fiéis representada pelo concílio -- bem como o nepotismo e a imoralidade de alguns pontífices demonstraram a necessidade de uma reforma radical no seio da igreja.
Aqui vale destacar o quanto tem de simbólico o fato de que o início da Reforma protestante, com a proclamação das 95 teses de Martinho Lutero em 31 de outubro de 1517, em Wittenberg, Alemanha, tenha sido precipitado pela chegada dos legados papais que anunciavam uma indulgência em troca da doação em dinheiro para a construção da Basílica de São Pedro, em Roma.
Por outro lado, é bem verdade, já haviam surgido no interior da igreja movimentos reformistas que pregavam uma vida cristã mais consentânea com o Evangelho. No século XIII surgiram as ordens mendicantes, com a figura notável de Francisco de Assis. Nos séculos XIV e XV destacaram-se como pregadores Vicente Ferrer, Bernardino de Siena e João Capistrano. Além disso, no século XV registrou-se uma renovação da piedade popular, com um acentuado sentimentalismo em torno das dores da paixão de Cristo. As pessoas sentindo suas chagas como as próprias de Cristo. Vem daí as imagem estampada nos crucifixos!
Outros movimentos reformistas “febris” surgiram em aberta oposição à hierarquia eclesiástica. Já no século XII, os valdenses, conhecidos como "os pobres de Lyon" ou "os pobres de Cristo", questionaram a autoridade eclesiástica, o purgatório e as indulgências. Os cátaros ou albigenses defenderam nos séculos XII e XIII um ascetismo exacerbado e caíram no maniqueísmo, considerando a si mesmos os únicos puros e perfeitos. No século XIV, na Inglaterra, John Wycliffe defendeu idéias que seriam reconhecidas pelo movimento protestante, como a posse do mundo por Deus, a secularização dos bens eclesiásticos, o fortalecimento do poder temporal do rei como vigário de Cristo e a negação da presença corpórea de Cristo na eucaristia. As idéias de Wycliffe exerceram influência sobre o reformador tcheco João Huss e seus seguidores no território da Boêmia, os hussitas e os taboritas, nos séculos XIV e XV.
Em posição intermediária entre a fidelidade e a crítica à igreja romana situou-se Erasmo de Rotterdam. Seu profundo humanismo, conciliatório e radicalmente oposto à violência, embora não isento de ambigüidade, levou-o a dar passos importantes em direção à Reforma, como a tradução latina do Novo Testamento, afastando-se da versão oficial da Vulgata; ou a sátira contra o papa Júlio II, de 1513. Ante a insistência de Lutero para que se definisse em relação às teses dos reformadores, Erasmo fez a defesa da liberdade humana em seu tratado sobre o livre arbítrio, de 1524, contestado por Lutero em seu tratado sobre o arbítrio escravizado. As ponderadas ideias reformistas de Erasmo não se ligaram a nenhum movimento popular ou político nem foram acolhidas pelos intelectuais, que poderiam tê-las compreendido.

3. A Reforma protestante, os Cinco Sola ou Seis Pilares.
Iniciada por Lutero com seu desafio aos legados papais e à sua excomunhão, a Reforma protestante não se desenvolveu em uma só direção: foram diversos os grupos que percorreram caminhos paralelos e irreconciliáveis, embora unidos por sua oposição à doutrina e à disciplina da igreja romana e por sua luta política e militar contra o papa ou o imperador.
Assim como a penicilina quando injetada num organismo ela provoca uma reação aonde houver o quadro infeccioso.
A febre foi sentida em Martinho Lutero, monge agostiniano. Sua experiência pessoal, baseada em seu estudo da epístola de Paulo aos Romanos, pelo qual a salvação de Deus se comunicava pela fé e não por meio das obras, que decorrem da natureza humana corrompida pelo pecado original, fez com se redescobrisse a doutrina da justificação pela fé.
Dessa concepção fundamental - "só a fé" – deduziu-se aos poucos, segundo as controvérsias ou as circunstâncias políticas, o conjunto do pensamento luterano e reformado. A excomunhão por parte de Roma e a proteção que lhe dispensaram alguns príncipes alemães impeliram Lutero à ruptura. Mas foi a desqualificação da autoridade do papa avalizou outro grande princípio da Reforma -- "só a Escritura" -- que proclamava a Bíblia, interpretada individualmente à luz do Espírito Santo, como única fonte de autoridade na comunidade cristã.
Seguindo a Escritura, I Tm 2:5, a mediação da Igreja, dos santos, dos sacerdotes, foi questionada e desprezada (inoculada). Os Reformadores firmaram o principio de que “somente Cristo” é o Cabeça da Igreja, o seu Salvador: o que único que morreu e ressuscitou pelos crentes.
Na verdade quem salva é Deus por que Ele usa de sua soberana misericórdia para conosco pecadores, sem ver nenhum mérito em nos, o que baliza o principio de “somente a graça”: somente pela graça, pelo livre oferecimento do dom da fé em Cristo é que somos salvos. E por que “pela graça sois salvos mediante a fé”, a Deus somente seja toda a glória! Fica avalizado o somente glória a Deus. Eis os cinco sola!
A partir desses cinco sola um sexto pilar foi erguido. O do sacerdócio universal dos crentes, ou dos santos, a doutrina que ensina que todos os crentes estão em condições de igualdade perante Deus. Como redimidos podemos nos achegar ao Seu Trono de Graça e obter todas as bênçãos de Deus, tanto para si mesmo, como para a sua família e para todos os que precisarem, seja por meio da pregação ou da intercessão a Deus por meio de súplicas e oração pela salvação dos povos. Por que fomos justificados pela fé, nunca mais, nenhuma maldição, será, sob quaisquer circunstâncias, lançada sobre o crente por isso há firme o seu status de sacerdote. Conseqüências da Reforma
O efeito da Reforma, da aplicação desses princípios foi mesmo avassaladoramente antibiótico. Senão vejamos.
Em 1525, Zwinglio fundou em Zurique uma teocracia que se estendeu a Berna, Basiléia e Estrasburgo. Sua doutrina teológica radicalizou-se mais que a de Lutero, especialmente ao negar a presença de Cristo na Eucaristia. Sua igreja avançou tanto na Reforma que foi excluída da aliança evangélica de Gotha em 1526, e só readmitida após sua morte, na concórdia de Wittenberg, em 1536.
Os anabatistas, assim chamados por defenderem um novo batismo para os adultos, já que crianças não poderiam receber a graça que só se transmite pela fé, eram vinculados às doutrinas de Zwinglio, embora, mais revolucionários, exigissem uma observância mais radical dos ensinamentos da Bíblia. No campo social, rechaçaram a violência, proclamaram a separação entre a igreja e o estado e criaram comunidades livres. As repercussões políticas dos novos grupos, que conquistaram adesões maciças em algumas cidades, provocaram a união dos católicos e dos reformadores, que se aliaram para tomar de assalto seu centro na cidade de Münster, castigando severamente seus dirigentes.
João Calvino, teólogo francês, refugiou-se em Basiléia e depois em Genebra devido a suas idéias reformistas. Publicou em 1535 Christianae religionis institutio (Instituições da religião cristã), que se tornou o primeiro “catecismo”, ou tratado de teologia básica da Reforma. Sua tentativa de unificar os diversos grupos protestantes atraiu importantes seguidores de Zwinglio, mas consumou a separação com os luteranos. A doutrina da dupla predestinação, a severa disciplina imposta em sua concepção teocrática da cidade-igreja e o governo presbiteral das igrejas constituíram de fato o que se chamou de “segunda Reforma”.
Na Inglaterra, a mudança da igreja teve uma origem fundamentalmente política, logo aproveitada para uma Reforma religiosa. Henrique VIII, irritado pela negativa do papa Clemente VII em lhe conceder o divórcio, conseguiu em 1531 que o Parlamento inglês aprovasse a subordinação da igreja à coroa. O monarca acentuou sua exigência política em relação à igreja nos anos que se seguiram, até culminar no cisma anglicano em 1534. À separação política seguiu-se uma reforma doutrinária e litúrgica. A obra mais destacada na fase inglesa da Reforma foi o Common Prayer Book (Livro da prece pública).
Na Escócia, predominou o presbiterianismo introduzido por John Knox, que havia participado da Reforma em Genebra junto a Calvino. Da Escócia, o presbiterianismo foi para a Inglaterra, da Inglaterra para os Estados Unidos e destes para o Brasil.

4. A palavra boa e fiel da Reforma e a Salvação, a penicilina para os povos.
A Reforma Protestante foi um dos acontecimentos mais marcantes em toda a história da humanidade, não há outro que rivalize em termos de impacto e a abrangência mundial. Não há acontecimento da nossa história que se possa comparar a esse em termos de durabilidade, permanência e continuidade ou expansão.
A Reforma atraiu para si o anseio do povo por salvação, consagração, vida plena, por cura. Contrariando previsões pessimistas, em relação às contra-indicações, de que a liberdade apregoada pelos reformadores redundasse no seio da sociedade em libertinagem, devassidão e imoralidade sem controles, as multidões aderiram à Reforma.
Irmãos, se hoje perguntarmos para o povão, qual seu anseio de suas vidas, dirá, “Além da saúde, que está em primeiro lugar, e que é um dom, um presente de Deus, eu quero comida, casa, roupa lavada e um dinheirinho para sair por ai”.
O anseio dos povos está em Provérbios 10:22: “A benção do Senhor enriquece e, com ela não traz desgosto” (ARA). Outra versão diz “a benção do Senhor enriquece e não acrescenta dores” (ARC). Mas há uma versão da Bíblia, e justamente uma versão católica, a Bíblia de Jerusalém – BJ diz, “É a benção de Yhaweh que enriquece, e nada ajuda a fadiga”.
Tudo o que os povos mais desejam é a benção de Deus, a benção que Deus outorgou a Abraão e a ele veio com a promessa de que “em ti serão benditas todas as famílias da terra” ou “por ti serão benditos todos os clãs da terra” - BJ.
A solução não está em se fatigar para conseguir comida, roupa lavada e algum tempo livre, para o exercício da liberdade de ir e vir. Com o trabalho, com a fadiga diária, se alcança relativamente tudo. Mas e a saúde? Não se trata aqui de reduzir a salvação à recuperação da saúde física. Não é disso que se trata. Mas o fato é que a saúde plena tem tudo a ver com a salvação.
Saúde e salvação são termos derivados das palavras gregas “soter”, “soteria” e das latinas “salus”, “salvus”, que evocam o termo hebraico “shallon”. Todo mundo tem pouca ou muita saúde, mas todo mundo está espiritualmente doente e precisa desesperadamente de recuperar a saúde e depois dela recuperada, mantê-la. A salvação é cura. Mas também essa cura abrange resgate, libertação, redenção de uma condição infeliz ou imperfeita, que incomoda, humilha, desanima, compromete.
A ideia que gostaria de transmitir esta manhã é a de que quem é salvo, curado, sadio, andou carecendo, necessitando, urgindo, do verdadeiro bem estar. Disse Jesus: “Deixo-vos a minha paz”, a minha shallon, a minha saúde, “vos dou; não vo-la dou como dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”. – Jo 14:27.
Interessante que no inicio se falou de bactéria que ataca. Mas a verdade é que ela ataca e prevalece no corpo com o sistema imunológico fraco, debilitado... Não fosse a penicilina... Não fosse a providência de Deus para a cura! Por essa ideia que hoje se transmite, Apocalipse 22:1-5 diz que para o justificado de Deus há uma perspectiva de futuro gloriosa:
“Então me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça, de uma e de outra margem do rio, está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a cura dos povos. Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos o servirão, contemplarão a sua face; e na sua fronte está o nome dele. Então, já não haverá noite, nem precisarão eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos”.
A nossa religião cristã, aponta para essa arvore da vida, oferece essas folhas retiradas dessa arvore para a cura dos povos. Essa nossa religião é de salvação. Ela dá o diagnóstico da condição humana, doente, mais do que moribunda, no dizer do Apóstolo Paulo, a humanidade vem ao mundo num estado descrito como de “mortos em seus pecados e delitos” – Ef 2:5 e aponta o caminho para a vida em Cristo Jesus, o caminho para a saúde, a saúde integral quando em comunhão com Deus.
Se Paulo estivesse entre nós quem sabe não expressaria nos termos que é total a degeneração humana, o quadro é de septicemia. Mas a salvação trazida pela justificação pela fé em Cristo Jesus traz essa salvação que tira o homem de estado de fraqueza, o desperta e o desprende e lhe dá a liberdade verdadeira aquela de que se diz “se o filho vos libertar verdadeiramente sereis livres” – Jo 8:36. “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou... Gl 5:1a.
Mas diz ainda Paulo para os gálatas “Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão” Gl 5:1b.
Palavra boa da Reforma. Consagração, santificação tem a ver com a manutenção de nossa saúde, da nossa salvação.
A Reforma veio representar uma nova perspectiva: saúde conservada, vida consagrada, com liberdade que rompe com o pecado, a raiz de todo mal: cobiça, luxúria, egoísmo, avareza, formalismo, legalismo, mas principalmente, com a ignorância, superstição, obscurantismo isso realizado em nível pessoal, intimo, individual. É importante marcar que a Reforma partiu da experiência individual de Martinho Lutero e de outros contemporâneos ou sucessores dele e mesmo de seus antecessores, todos testemunhando a experiência real do que Deus fez em suas vidas. A Reforma não é movimento que ficou na teoria, no academicismo, nas fórmulas pré-elaboradas que servem antes de comunicar, às disputas teológicas, e às divisões que levam a Reforma á redutos de sectarismo e exclusivismo, de linguagem castiça. A Reforma foi movida por Cristo, enquanto quem comanda o “Espírito que dá vida”!
A Reforma também foi um movimento que do individuo contaminou a sociedade. É importante lembrar o êxito da pregação de Lutero. Aceita pelos príncipes alemães dos principados do leste e do norte da Alemanha e seus aliados. Disseminada nas terras dominadas pelo imperador espanhol a serviço de Roma, e nas outras habitadas por povos amantes da democracia e da liberdade. Isso fez surgir enorme força política em confronto direto com o domínio papal, domínio político conservador, que transcendeu em muito à mera refrega entre igrejas. E a ameaça e o ataque, e por fim a vitória, frente a esse domínio não representaram apenas outra vertente política e religiosa, mas uma nova área de influência cultural. O mundo viu nascer poderosa força “antibiótica” que em sua esteira viu surgiu pontos de pregação em casas de famílias, casas de oração e louvor, novos templos e velhos templos reformados, adaptados aos novos tempos, trazendo em seu entorno seminários, bibliotecas, escolas e universidades. Tudo isso visando trazer a cura de Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo que nos salvou quando nos libertou do domínio do pecado, nos regenerou e vivificou, através da nossa união com Cristo na sua morte e ressurreição (Rm 6:3-11)
Não podemos, devido à escassez do tempo, abordar tudo o que a Reforma gerou em termos de reforma social. Nesse campo mereceria até que discutíssemos o assunto mais profendamente. Somente deixo a afirmação para que vocês reflitam. Após a Reforma o avanço da ciência, uma realidade desde o humanismo, incrementou-se, aumentou de modo desmedido. As demandas sociais, as reivindicações do povo livre, no sentido de ser representado, de conquistar seus direitos, algo que começou ainda na igreja de Roma, com o conciliarismo, dois ou três séculos antes, tomou forma na igreja, ganhou a rua e secularizou. E depois veio até a emancipação da mulher. Vieram também coisas ruins, que trouxeram etiqueta de “modernismos”, mas passiveis de ser debeladas com o nosso “antibiótico”. Não há nada a temer, não há que possa com o “benzetacil” da Reforma.
Podemos arrematar o assunto assim tocado bem de leve, dizendo que sem a Reforma Luterana, com a ascensão dos povos, alemão, francês, suíço, dos nórdicos, sobre o antigo império romano talvez se levaria muito mais tempo para se ter o Iluminismo, a Revolução Francesa, os partidos políticos de direita e de esquerda, liberais e conservadores, reforma agrária, democracia, socialismo, capitalismo e o mundo hoje ainda seria bem mais difícil de se viver. Talvez ainda hoje a novidade do Evangelho ainda se restringiria aos mosteiros e as sociedades de amigos da vida comum.

Conclusão
Certo é que uma coisa foi encadeando outra. Como se disse, a Reforma começou na Alemanha se espalhou por toda a Europa, alcançou a Inglaterra, Escócia e do que hoje é o Reino Unido veio para os EUA e acabou por aportar-se no Brasil por força do Movimento Missionário que trouxe da América do Norte o Rev Ashbel Green Simonton, e em sua mala o projeto de implantação de uma igreja presbiteriana no Brasil.
Então podemos dizer que foi em meio de turbulências que surge esse Movimento Missionário que visou levar a experiência da Reforma, a experiência da salvação aos povos mantidos na escravidão da “idolatria” e do “paganismo”. Foi assim que a Reforma chegou até nós. Como uma Reforma viva e vibrante. Uma Reforma renovadora, que traz cura. A reforma antibiótica.
Tanto é assim que esta igreja local existe por causa da Reforma. Por causa da Reforma, tanto no sentido de que é fruto desse encadeamento de eventos, desse mover de Deus na história, dessa atuação do Espirito de Deus, quanto tem por fim “ensinar os fiéis a guardar a doutrina e prática das Escrituras do Antigo e Novo Testamentos, na sua pureza e integridade, bem como promover a aplicação dos princípios de fraternidade cristã e o crescimento de seus membros na graça e no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Reparem bem que estou citando aqui o art. 2º da CI/IPB e se vocês percebem essa expressão está entre aspas. O que isso significa? Que é uma citação de uma histórica declaração de objetivo adotado pelos missionários que aqui aportaram. De onde isso vem? Vem de muito longe, no espaço e no tempo. Mas esse é o objetivo da Reforma. Não fosse esse evento, talvez não estivéssemos reunidos aqui para cumprir o objetivo da nossa igreja, ou seja, Art.2º da CI/IPB:
“A Igreja Presbiteriana do Brasil tem por fim prestar culto a Deus, em espírito e verdade, pregar o Evangelho, batizar os conversos, seus filhos e menores sob sua guarda e “ensinar os fiéis a guardar a doutrina e prática das Escrituras do Antigo e Novo Testamentos, na sua pureza e integridade, bem como promover a aplicação dos princípios de fraternidade cristã e o crescimento de seus membros na graça e no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Os cinco sola, os seis pilares, que abordaremos aqui tem a ver com esse objetivo. É a partir do conhecimento da Reforma da explicitação dos seus princípios que se começa a “guarda e a prática” das Escrituras, “na sua pureza e integridade”, que se constrói a base para a “fraternidade cristã e o crescimento... na graça e no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Isso representa vida!
E a você que entrou aqui na expectativa de ouvir uma boa palavra é essa que deixo e que tem feito toda a diferença em minha vida:
- “Justificados pois mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” – Rm 5:1;
- “... nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”.

Reflita nessas palavras e examine a sua própria condição de vida e tenha um proveito dessa penicilina dos povos!

Brasília, 30 de outubro de 2011
Palestra dada na Terceira Igreja Presbiteriana de Ceilândia.
Anamim Lopes da Silva.

quinta-feira, 17 de março de 2011

CONTINUAÇÃO DO TENTANDO ESPANAR O ESPANADOR DO MOVIMENTO NEO-CALVINISTA

13. O que há de novo em “relacionamentos complementares (e não igualitários) entre homens e mulheres”? Isso é o velho e manjado machismo redivivo? É a velha, vetusta, reação ao avanço reformado na direção da possibilidade de ordenação feminina ao sagrado ministério de mulheres santas, vocacionadas, adornadas com dons, por Deus, e decididamente evangélicas ou ortodoxas, isto é, reformadas? Ou não? Não igualitário? Não sendo igualitário, e você afirma que os driscollianos, ops, neo-calvinistas, dessa sua linha, não são, o que são? Hierarquizados? Escalares? Se for assim só o homem pode estar por cima? Se quem está por cima é o homem, como pode o homem ser complementar à mulher, tanto quanto a mulher é complementar ao homem? Complementar não se coaduna com não-igualitário. Não igualitário coaduna-se com a submissão da mulher. Então o que são estes relacionamentos complementares homem-mulher que não podem ser complementares mulher-homem? Estou te interpretando mal?

14. Ainda no quesito relacionamento homem e mulher, acho que o chamado “velho” está melhor do que o “novo”. Por que o “velho” permite que mulher suba ao púlpito, (e qual o problema da mulher subir ao púlpito, falar de cátedra, é o púlpito é reservado ao ministério pastoral? E esse troço de ministério pastoral é algum tipo de sacerdócio eterno da nova aliança privativo do levita/homem? E qual a diferença de ler um livro de qualquer autora e de ouvi-la pregar?) ainda que não ordenada, faça leitura bíblica, pregue, ore... E o “novo” (Driscoll, Piper et caterva) está dizendo que a mulher não deve fazê-lo, pelo menos do alto do púlpito – se bem que o Driscoll diz que a mulher deve se calar mesmo, nem pregar, nem ensinar... A Igreja, segundo os novos, deve perseguir o padrão de algo próximo do silêncio feminino absoluto, o que a Bíblia sequer prescreve por que no contexto se diz que “toda a mulher... ora ou profetiza”. Numa boa exegese, “qualquer” mulher “ora e profetiza”, como qualquer homem “ora e profetiza”, apenas que se ela “com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça”. (I Co 11:5-7). Versiculo isolado? Ora, até a Biblia de Estudo de Genebra chama atenção que a Bíblia/NT não ensina o silêncio absoluto de mulheres na Igreja.

15. O “novo” está passando por cima de tudo. Vem como trator-patrola. Nem é o caso de dizer que o “novo” esteja passando por cima da Palavra de Deus, o que como “velhos” achamos tolerável, nos iguala, aos “neos”, é que não satisfeitos de passar por cima da Palavra, estão passando por cima das sacrossantas e infaliveis notas exegéticas e homiléticas da Bíblia de Estudo de Genebra! Isso é o fim da picada! Ai, não, isso é imperdoável. Buzina esses “neos”. Brincadeiras á parte, certo é, no caso, parece, que o “velho” tem aceitado melhor a Palavra de Deus, e tem trabalhado melhor essa questão da Tradição? Então para que o novo? O “vinho velho” como todo bom vinho está melhor do que o vinho novo, que, aliás, de novo não tem nada... é a velha morrinha, a velha cisma, a velha fissuração, o velho machismo? O que existe de novo é novo fruto da vide, de novo, ou é uma nova expressão da velha fermentação?

16. Pateticamente pergunto por que enfim essa questão? Por que sempre revolver esse assunto. Pauta-se isso como ponto para uma “nova reforma”. De certa forma banalizam-se os velhos cinco pontos do calvinismo. Não são mais cinco, agora são novos nove – para coincidir com os nove dons de I Corintios? - pontos do calvinismo: os cinco antigos, renovados, e os quatro novos, dentre os quais “relacionamentos homem e mulher complementares porém não igualitários”. Por que defraudar essa bandeira do chauvinismo? Alguém poderá perguntar. Nada de neo-calvinismo, nesse ponto, se você não me corrigir, pelos seus simples dizeres, isso para mim, certo ou errado, nem vem ao caso agora, é neo-chauvinismo! Você não percebe?

17. Por que os novos não trazem, por exemplo, a discussão ainda irresolvida do conflito entre a ciência moderna e a fé fundamentalista ex viz à subsistência do “criacionismo bíblico”, adventista, de terra jovem, dos seis dias literais e outras babozeiras adventicias? Essa, e outras babozeiras adventicias, driscollianas, dos calvinistas de bermudas, não envolveria questões mais relevantes para você quando era um universítário? Puxa, há muita abrobrinha para ser discutida ainda como bons e velhos reformados! Qual dos assuntos você acha mais interessante para você levar hoje com a Kamyla? – Kamyla, você vai ficar calada, tá, enqunato eu falo, vai ser assim está na Palavra I Tm 2:12...” Você acha que ela não preferiria discutir a idade da terra, o modo como Deus efetuou a Criação, ao invés do convencimento de que ela é inferior a você e por isso ela precisa complementá-lo no Ministério e que não deve ter Ministério próprio no Reino de Deus para você complementar?

18. Ousadia e cuidado, não vamos radicalizar. Mas, que questão não resolvida ainda se embute nesse caso, com exceção da que os machistas de plantão insistentemente recorrem, e insistem em rebaixar a condição da mulher na Igreja, em plenos dias de governo de nossa Presidenta Dilma? Essa é mensagem relevante para o Brasil nos dias hoje? Está resolvido, biblicamente e teologicamente: os sexos são complementares por que homens e mulheres diante de Deus tem o mesmo valor, posição espiritual idêntica em Cristo. Acabou. The End. E a IPB, e outras igrejas “neo-reformadas”, não ordena mulheres ainda por que estas por enquanto não são necessárias ao ministério ordenado, ou especializado, apesar indispensáveis na igreja como professoras de escola dominical, promotoras de eventos sociais, obras evangelicias inspirativas e edificacionais, etc. Não são necessárias ao ministério especializado pois tem mais pastores do que crentes (leigos = somente crentes) em muitos lugares do País. A IPB e outras igrejas “neo-reformadas” estão minguadas, pifadas, mal das pernas e não dão conta de dar trabalho sequer para os seus vocacionados masculinos. E Deus sabe muito bem disso, e por isso talvez ainda não disparou vocações femininas para a pregação, administração dos sacramentos e para o exercicio da disciplina eclesiática! Quem sabe não é isso? E por isso, quem sabe, por não outra coisa, a ordenação feminina ainda não é problema na IPB, pois sequer é necessidade! Quando for necessário um presbitério ordena a pedido de uma igreja local, embasando o pedido na Bíblia, única regra de fé e prática, a maior e incontestável autoridade em matéria de fé e vida. Cabe recurso até ao SC? E dai? Se desordena? E como que fica os “dons e vocações são irrevogáveis”? O presbitério não aceita, e as pessoas saem da IPB, deixando para elas seus bens patrimoniais que revestem em renda para o sustento da estrutura encastelada. Pronto. Prejuizo para o povo da IPB. Neo-calvinismo é isso? Neo-reformados? É divisão?

19. Pode ser que a sobredita “ordenação” feminina não sai por que, além da falta de vocação das mulheres, nós os homens da igreja não a desejamos. Não suportamos nos nivelar ao sexo frágil, incompleto. Talvez nesse quesito eu seja exceção. A presença das mulheres em nossos concílios, assegurando-lhes voz e voto, outorgar-se-lhes-iam um sabor de responsabilidade maternal e afetuosa muito próximo do que Paulo, talvez tendo visto isso na Priscila do Aquila, se referira aos “ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade”, que levasse com mais facilidade a “suportai-vos uns aos outros” e ao “perdoai-vos mutuamente,..” – Col. 3:12-13. Penso que a minha mãe esposa do meu pai pastor, se preparada, poderia ter sido melhor pastor do que ele (até ele há de concordar comigo) e a minha esposa poderia ser melhor presbitera do que eu presbítero (e ai penso que, em sua modéstia, ela não concordaria comigo). Penso que exigiria por parte de nós homens um espírito de respeito e reverência maior à presença feminina e muitas das trapaças, peitas, explosões e até pugnas seriam evitadas em beneficio da igreja. Por outro lado, as frágeis “razões bíblicas” fundadas em assertivas paulinas limitadas culturalmente temporal e territorialmente, isoladas do contexto, não fazem mais firmes as minhas convicções até inamovíveis contrárias à ordenação feminina.

20. Quero então dizer, que esses “relacionamentos complementares entre homens e mulheres sem igualdade” não é problema digno de algo que se chama “novo” é uma posição retrógrada, e embirrada, dos antigos, e decorre de discussão bizantina que acaba em dizer que mulher não pode ser ordenada, mas elas, infelizmente, não são, nem serão, nem vocacionadas... E a vocação delas não se necessita, nem se necessitarão, pois o rebanho de Deus nessas igrejas “neo-quadradas” não está dando nem para os pastores masculinos ora ordenados! Sequer são desejadas. Como você poder ver, isso deixou de ser chifre em cabeça de cavalo, é pele em casca de ovo... Você devia saber que isso é reacionarismo puro pois igrejas reformadas ortodoxas já permitem, não obrigam, a ordenação de mulherres: a EPC, a NACRC, que mantém relações com a IPB/LPC. Há grupo numeroso que já defendem essa possibilidade na PCA. Mantém-se “duros” as denominações retrógradas OPC, BPC e os locais-independentes, e agora reforçam-nos os “neos”.

21. Afirmo que essas extravagâncias biblico-reformadas medram em igrejas/denominações mirradas, caquéticas, depauperadas e a prova é que esses neos precisam casar suas invencionices com o movimento de igreja emergente, sair fora das igrejas conciliares em seus segmentos superiores por que sabem que as suas ideías não suportariam as criticas conciliares. Resulta que numa igreja emergente, local, com perspectiva de mega-igreja, há um contigente numérico expressivo consequente da cata de membros, “abacaxis de igreja”, que acodem a esses movimentos de ”suv”, vans, ônibus, trens, metrô, dentro de um raio de áreas urbanas metropolitanas de 100 ou até 150 km... Não são igrejas de comunidade, São igrejas que somam individuos mais “irmãos” abstratos do que concretos “amigos”.

22. Outro ponto, marca dos “neos”, apontado com toda pompa e circunstância, é o “ministério cheio do Espirito Santo”. O que é isso? Quer dizer que essa não era marca dos reformados ou calvinistas das antigas? E eu que pensava que ser cheio do Espirito Santo era ordem para todo crente, “enchei-vos do Espirito”, agora, para os “neos” virou qualificação para o santo ministério? È ministério ou é sacerdócio especial e perpétuo da nova aliança? São só os católicos que colocam a Palavra debaixo do vetusto Magistério? E o que fazem esses “neos” com a ordem para que todos os crentes, não só os do “ministério” sejam cheios do Espírito? Se excluem as mulheres do Ministério, e até do dever de pregar o evangelho, logo essas também não precisam ser cheias do Espirito? Quer dizer, que haviam pastores, presbiteros e diáconos e membros de igrejas da velha ordem que nem eram cheios do Espirito Santo? E quanto as “demais” qualificações, não indicadores do ser cheio do Espírito? Não depende do ser cheio do Espirito para ser “irrepreensível, marido de uma só mulher, temperante, sóbrio, ordeiro, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, ... moderado, inimigo de contendas, não ganancioso; que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); ... [ter] bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em opróbrio, e no laço do Diabo”. Para tudo isso não depende de ser cheio do Espirito? “Da mesma forma os diáconos” para serem “sérios, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância”, para “guardar o mistério da fé numa consciência pura”; para que se “sejam primeiro provados, depois exercitem o diaconato, se forem irrepreensíveis”, não depende da ação, direção e domínio do Espirito Santo? “Da mesma sorte as mulheres”, que nunca são listadas pelos “neos” para que “sejam sérias, não maldizentes, temperantes, e fiéis em tudo”, não devem ser dirigidas e controlados pelo Espirito? É possível ter todas estas essas qualificações de I Tm 3 e ainda não ser cheio do Espirito Santo e ai então eu retorno à pergunta: o que é então ser cheio do Espirito Santo como requisito para o Ministério?

23. Trata-se do mesmo julgamento recorrente de quem é contemporanista contra o cessacionista. Novo quanto o montanismo, o movimento da Rua Azuza... O que caracteriza ser cheio do Espírito Santo para o contemporanista é o falar em linguas, se se crê que isso não existe mais, cessou, ser cheio do Espírito Santo, para mim, não é falar linguas. Se crê não seja somente isso e sim isso acompanhado de outras coisas o que é mais importante? Para o comtemponista é possivel ser cheio do Espírito Santo sem falar em linguas? Se é possivel ou é impossivel, meu Deus dos Céus, o que há de novo nessa discussão? É claro que muitos destes neo-calvinistas não têm nada de “neo” são mesmo calvinistas neo-pentecostais, para quem ser cheio do Espírto Santo, é, dentre outras coisas de somenos importãncia, falar em linguas e receber o revestimento para sair por ai realizando milagres, disparando profecias premonitoras, tornando mais efetiva a pregação do Santo Evangelho. Com mais unção. Unns são.Outros não são: são sem unção... Tudo bem! No final, como disse no inicio acabam se contentanto com as práticas liturgicas inovadoras, renovadas... Então diz logo, ser “neo” é certo aberto a práticas liturgicas inovadoras. Qual o problema de ser calvinista neo-pentecostal ou mesmo calvinista pentecostal? Para mim não tem nada demais, agora... traga-nos mais unção. Mas sem chamar neo-pentecostal de neo-calvinista. Seria chamar o Louis Franciscon de neo-calvinista ou dizer que o neo-calvinismo tem tanto de novo quanto a Congregação Cristã no Brasil!

24. Tem alguma coisa de novo em “prática missional”? Dizer que “a formatação de nossa vida e de nossas igrejas com o objetivo de levar Cristo a ser adorado por muitos, nos leva a rompermos com certos tradicionalismos” remonta a divisão da igreja em nova luz, velha luz; velha escola, nova escola... Isso levou ao modernismo teológico e pode nos levar de volta ao calvinismo. Que jóia! Tem mais de 100 anos de idade, no mínimo. Por outro lado, essa prática missional não tem sido muito coerente, os “neos” fizeram correr do RTS o nosso amado Editor-Geral da Bíblia de Estudos de Genebra, Rev Bruce Waltke, que disse: “Se os dados são predominantemente a favor da evolução, negar essa realidade fará de nós uma seita (a cult)… uma espécie de grupo isolado (odd group) que realmente não interage com o mundo. E isso é assim, não estamos utilizando nossos dons e nem estamos confiando na Providência de Deus que nos trouxe até este ponto de nossa compreensão“. Esse é “velho” mesmo, tem 79 anos, a maior parte deles como notório estudioso evangélico do Antigo Testamento e falando sobre “academia, fé e evolução” não somente endossou a evolução, mas disse que “o cristianismo evangélico estava enfrentando uma crise para não acabar aceitando a ciência”. É assim aferrando-se à idéia da criação do universo em seis dias literais com a idade de 10 mil anos, ou menos, e considerando hereges os evolucionistas teistas que estamos servindo a Deus, e ao mundo, nessa geração? Acho que nós estamos pagando o mico nessa geração! Pagamos um mico menor, desnecessário, para outros irmãos teístas, porque aos ateístas o pagamos maior por crermos em Deus. Se é para pagar micos, calvinistas da nova geração, paguemos os necessários.

25. Ir contra questionar “ritmos mundanos”, contra chamar “pentecostais de apóstatas” de “hereges os arminianos”, não é atitude nova entre os calvinistas e reformados de boa cepa. Isso é atitude de piedade e caridade cristã, neo-testamentária, e que qualificou os presbiterianos das antigas. Nada contra. Mas, questiono, até que ponto isso é motivo de cavalo de batalha? Qual o problema de adotarmos os “ritmos mundanos” em nossa casa, ouvindo no rádio, curtindo um DVD, se isso não atrapalha a nossa edificação, e achá-las não apropriados para o culto divino? Qual o problema em apontarmos falhas flagrantes em termos bíblicos, teológicos, doutrinários, éticos e até morais dos pentecostais que sempre nos apontaram como quem não tem o Espírito, não crêem na ação providencial de Deus, na sua direção pessoal de nossas vidas? Chama-nos de ateus práticos, liberais camuflados, arrogantes e soberbos de quem o Espirito Santo passou longe e nós não podemos dizer que são apóstatas da Reforma? Que são simonistas? Que são materialistas com a sua teologia da prosperidade? Que são prognosticadores e feiticeiros com as suas profetadas? Que são místicos, extáticos e patologicamente desequilibrados com suas algaravias glossolálicas? Não são mesmo heterodoxos os arminianos? Por que não termos liberdade para essa critica no nosso reduto, já logicamente ele jamais nos darão essa liberdade no reduto deles? Mas parece que os “neos” estão sendo contra até termos nosso reduto próprio?

26. Você está certo quando por vezes se sente desconfortável, sendo reformado, no reduto reformado puro, sem mesclas. Sai do reduto neo-pentecostal. O reduto neo-pentecostal saiu de mim. Estava cansado de glossolalia, profetada, exclusivismo, desordem nos cultos, desordem na vida familiar, vida cristã descompromissada quando vivida fora das quatro paredes, julgamentos de que “nós” somos “neos”, eles são “velhos”... Enojado dessa postura cainita de condenar alguém como menos espiritual, que mantém ministério apenas ‘ordinário’, sem ‘visão sobrenatural’, ‘sem unção’, ‘sem poder’, sem ‘enchimento ou plenitude do Espirito’ e ‘sem milagres’, ‘sem amor’ e ‘sem piedade’... Cansei disso tudo. Estou também meio cansado de presbiterianismo, confesso, se pego abuso, bie, bie... Mas voltar a ser ‘pentecoste’, só se for por capricho divino. Como sei que Deus não é dado a caprichos, acho que se abuso do presbiterianismo, devo ir para uma outra igreja tradicional, metodista, episcopal, luterana e nem descarto a idéia de, de alguma forma, transpor as águas do Rio Tibre. Mas essa é minha experiência e perspectiva. Por isso, posso entender que você ficaria melhor num reduto reformado menos reformado, e mais carismático. Gosto para tudo. Isso por que você deixou o reduto neo-pentecostal, mas o reduto neo-pentecostal ainda é muito latente em você. Eu não, só eu e Deus sabemos o que passei por lá. Dolentia nunca mais.

27. Igual a você sei de muitas pessoas preciosas que se chocam com um presbiterianismo, ou cristão-reformismo, muito estrito. O que devo lhe dizer é que este fenômeno é novo, esse negócio de fechar 100% com os padrões de Westminster, pegar um ponto da CFW e sair brandindo “você é desonesto, descumpridor dos seus votos de ordenação”. Em algum momento, a IPB deixou de lado uma linha muito equilibrada adotada extra-oficialmente, expressa pelo Rev Antonio Almeida, que escreveu no final dos anos 1950, e reeditado pela CEP até pelos idos de 1979. obra que tive contato quando era seminarista em agosto de 1985. Trata-se do Curso de Doutrina Bíblica, sub-entitulado “Segundo a orientação dos catecismos e da Confissão de Fé da Assembléia de Westminster”, que estabelecia, verbis: “A Igreja Presbiteriana adotou e todos os seus oficiais aceitam a Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve, formulados pela Assembléia de Westminster, ‘como fiel exposição da doutrina ensinada nas Santas Escrituras’. Esta aceitação não significa que sejamos obrigados a crer e sustentar todas as cláusulas contidas nesses símbolos doutrinários, pois eles mesmos ensinam que a única autoridade para resolver nossas dúvidas e controvérsias em matéria de religião é a Bíblia. Temos, pois, a liberdade de divergir deles em uma ou outra expressão que não represente ponto fundamental de doutrina, por julgarmos, talvez, mais acertado outro modo de interpretar qualquer texto das Escrituras. E, com essa liberdade, nos os presbiterianos de toda parte do mundo, nos sentimos muito bem em possuirmos um dos mais admiráveis resumos do pensamento bíblico que já foi dado aos homens condensar em tão pequenos opúsculos. ALMEIDA A. - Curso de Doutrina Bíblica - Segundo a orientação dos catecismos e da Confissão de Fé da Assembléia de Westminster”, pag. 8. Edição da Casa Editora Presbiteriana – São Paulo – 1979. O que parece, seria o Rev Almeida um neo-calvinista?

28. No mais eu concordo com você, no mais o que? Nem sei... Mas, é fato, “na verdade, não há nada de novo com os novos reformados”. Sequer são novos, tem alguns neopentecostais, outros neo-calvinistas, outros neo-machistas, uns neo-quadrados, tudo boa gente... “Eles estão apenas tentando fazer como Davi, que serviu ao Senhor e à sua própria geração. Somos como Paulo, que buscava formas de tornar o reino de Deus conhecido dos gregos e dos judeus, além de enfrentar as heresias e buscar a unidade de igrejas divididas em partidos. A única diferença é que buscamos fazer isso dentro do século XXI”. Então tá, se eu conseguir me erguer “que o Senhor nos ajude a alcançarmos este objetivo”... O meu objetivo agora é andar primeiro segundo o coração de Deus e depois servir á minha geração... Agora, ser listado e criticado por vezes não ajuda muito... Agora, now again, digo isso, mas eu nem sei se para você eu sou velho, ou sou neo? Nem sei se depois de tanto vampirizar esse Driscoll você continuará neo. Você tem criticas a fazer dos velhos? Tudo bem. Mas como é que fica essa questão de devermos “buscar a unidade de igrejas divididas em partidos”? Os “neos” não formam um partido?

29. Como o escritor aos Hebreus ainda tinha muito a dizer, mas isso foi o que no momento me é permitido fazer assim resumidamente.


Anamim Lopes da Silva

TENTANDO ESPANAR O ESPANADOR DO MOVIMENTO NEO-NEO-CALVINISMO

Caro Helder Nozima,

Seu artigo, em http://5calvinistas.blogspot.com/2011/03/novos-reformados-servos-da-nossa.html#comment-form, é repleto de dados precisos, remissões a pessoas diferentes e a idéias interessantes. Tem pontos edificantes. Diria até, sem fazer favor nenhum, é, em grande medida, edificante. Apreciei-o. Mas há nele algumas coisas que me sugere, se me permite, alguns apontamentos.

1. É perigoso você fazer corte. Inevitável alguém se sentir alcançado por uma linha imaginária a dividir meio que antipaticamente “novos” de “velhos”. Qualquer pessoa pode se sentir atingida. Atingido é o termo, e não ofendido, por que sei que você não foi movido com essa intenção. Sei que você reage às atitudes inamistosas por parte de quem não concorda com você. Por vezes me sinto e sou tentando agir assim com algo que pode parecer retaliação. Mas fazer o que e como? Virar uma metralhadora giratória? Fato é que chamar-se, a um grupo de que faz parte ou de um projeto de reduto, de “novo” é indicar que existam “velhos”. Algo que imediatamente percebo que conspira até contra o seu objetivo expresso, combater as divisões existentes em nossos meios. Mesmo assim você se distingue como novo e destaca os “velhos”?

2. Provavelmente certo que você desejou, com êxito, reagir e cindir (cortar e costurar) pretextos, intenções, resoluções, atitudes equivocadas, desconexas, atabalhoadas. Nada contra, apenas pondero, que resolvido fazer assim, intencionalmente, há que se ter consciência que isso exige medida certa de ousadia, inevitável; e de cuidado, indispensável, o que é algo que nem sempre acertamos na dose. Qual deve ser a dose certa de ousadia e cuidado para que a reação não vire reacionarismo e a cisão não nos leve às posturas cismáticas?

3. Você acerta em cheio quando lembra em texto áureo do Rei Davi, tipo de Cristo, paradigma de cristão, tomado desde sempre pela Igreja. Poderíamos lembrar também de Noé, Daniel, Neemias... e da Rainha Ester (porque não?) que marcaram as suas respectivas gerações “Porque, se de todo te calares agora, de outra parte se levantará para os judeus socorro e livramento, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?” Ester 4:14. A situação está feia, mas há socorro e livramento para a nossa causa comum da Reforma, que outra causa não é senão a Evangélica, a Protestante, a verdadeiramente Católica, a causa de Cristo. Nem por isso devemos nos calar. Mas ao falar, a gente deve tomar cuidado para não arruinar de vez. A posição de rainha exige essa responsabilidade por que com nossa boca a gente se posiciona a favor ou contra o socorro e o livramento que vem do Senhor. Mas, voltemos ao Rei. A nossa platéia não gosta muito de que falemos de rainhas, profetizas, pastoras... Devolvamos o papel paradigmático a um de nossa classe, dos varões, valorosos, viris, a quem cabe privativamente subir ao púlpito para apregoar todos os desígnios de Deus. Tal como “serviu à sua própria geração, conforme o desígnio de Deus”, devemos também servir-Lo. E é isso o que você sugere. É isso, veja que coisa, que tem sido o desafio e a frustração desde “líder” cristão familiar e eclesiástico, fracassado, velho de guerra, que se sente a própria bananeira que já deu cacho, um só, aliás, e este de não tão boa qualidade... Misericórdia? Nisso que se nos dá, para nossa “radiolinha”, termos certos sentimentos aguçados. A gente sente-se, por vezes “listado”, de uma maneira ou de outra, como “velho”, defensor de idéias e clichês velhos, bolorentos, e por que antigos e ultrapassados, por vezes até caricaturados....

4. A obra da Reforma foi um grande sucesso. O Reformador Calvino foi exemplo extra-bíblico, um dentre muitos, de quem marcou indelevelmente sua geração. Seu legado chega até hoje de tal maneira que todo e qualquer movimento, sistema, denominação, comunidade que não esteja enraizado no catolicismo romano, portanto, não-reformado, em no luteranismo ou não seja estritamente anabatista, tem suas raízes históricas, teológica, doutrinária e sociológica no calvinismo. A primeiras propostas de neo-calvinismo foram propostas ainda em Genebra por Serveto, Castejon e outros e tiveram que ser combatidas pelo próprio devido algumas, digamos, corruptelas, para ficar barato. A mais intensa foi a proposta de neo-calvinismo de Arminio e depois tivemos de Moise Amirault... Todas posteriormente classificadas como “infiéis”. A mais fiel talves seja a proposta do Rev Abraham Kuipper, a qual nos referiremos posteriormente, que, infelizmente, você fez questão de descolar o seu movimento deste. Uma pena. Ah, como lamento! Mas, é fato alvissareiro o êxito triunfal tanto do calvinismo quanto dos neo-calvinismo, esse pagando justo tributo àquele. Mas, no entanto, a teologia reformada, clássica, pura, que retorna às fontes, como sistema geral, orgânico, capaz de conferir alguma identidade própria, duradoura (isso parece você me lança ao rosto, no que devo concordar – fazer o que?), fracassou flagrantemente. Razão por que precisa para sobreviver, com mínimo de vitalidade, ser mesclada com um pouco de pentecostalismo, em certo sentido neo-calvinismo que ficou velho, que foi remasterizado por novel-neo-calvinismo chamado de neo-pentecostalismo, razão por que não faz mal nenhum para ninguém, o que, aliás, não deixa de ser uma coloração diferente do ser reformado! Uma coloração mais forte e mais correta, na medida em que enfatiza “carismas”, solução indispensável para que o calvinismo se revista de nova roupagem. Então, o neo-calvinismo é mais pentecostal, menos traditional, mais contemporary; menos não-pentecostal ou menos anti-pentecostal do que o vetusto calvinismo. Será mesmo isso que você quis eu extraísse? Se for, trata-se de uma boa tese. Assina em baixo? É isso? Se você assina em baixo, fazer o que? Sigo o voto do relator... Jogo a toalha.

5. Observo que você transita da nomenclatura “novo calvinismo” para o “novo ser-reformado” para o seu movimento. Na minha mal disfarçada, desmascarada e vil arrogância de visão canhestra, exclusivista ou reacionária, “novo reformado” não existia. Estava enganado quando achava que seria uma redundância elíptica e recorrente, com a escusa da repetição? Equivale dizer, teologicamente, seria o cúmulo do pleonasmo. Se for reformado, um dia cheguei a pensar assim, não tem essa de velho ou novo. Reformatum est per se reformanda semper est! É reformado. É original. É novo sempre! Não precisa de renovação nunca! Era o que eu pensava. Sinto abaladas as minhas convicções. Procede?

6. É triste ter que reconhecer que ficamos “velhos reformados”. Deve ser mais triste para alguém ter nos recordar disso. Triste missão. Acho que deve doer mais nesse alguém que assim alveja os irmãos. Puxa, de repente, me sinto com pena mais de alguém do que mim mesmo, apesar de que a minha situação é essa no buraco e esse alguém está fora dele e me estende a mão forte para tirar-me dali. De repente, esse sofrer solidário desse alguém que se importa com a minha situação miserável de esclerosado, me comove. Devo fazer todo esforço para não somente sair desse buraco, mas para não permitir que o meu peso possa puxar para dentro do buraco aquele que me salvar. E olha que não digo com ironia. Pode crer. Isso é o que venho sentindo, acho que pode até ser reflexo da andropausa. Mas, é verdade, paramos no tempo mesmo. Congelamo-nos numa situação abaixo da critica. Somos como aqueles prédios embargados pela Prefeitura (ou pelo GDF, se você preferir) enquanto ainda não passávamos de estrutura de concreto armado. Abandonados pelos construtores, expostos à chuva e ao vento, mostramos sinais evidentes de degeneração, corrupção, caquexia. Não servimos mesmo para nada senão enfear a cidade, comprometer o paisagismo. Servindo-nos de reduto de vagabundos sem-teto urinadores e defecantes, lar-doce-lar de moscas, ratos e baratas, a nada se nos destinam senão para sermos implodidos e reduzidos a escombros para que sobre estes se erga o novo. Fracassamos. É duro ter que ouvir o julgamento de que preferível fosse ter-nos aberto a tornarmos os pleonasmos ambulantes, neo-reformados, à conformação com sermos mais do que paradoxos, umas irônicas e aberrantes antíteses do “movimento parado” de Reforma que de reforma não tem nada, senão umas belas fórmulas vazias, vazadas em linguagem anacrônica, velhos caquéticos, arruinados,... reformadamente falando. Uma estrutura carcomida que serve apenas para indicar que ali alicerces profundos, pilares bem edificados, uma imagem que só faz gerar aborrecimento e engendrar o comentário: “é teremos que usar uma porção maior de dinamite para reduzir a pó esse troço”. Por mais triste que seja o meu retrato devo beijar a mão do retratista, sabedor de que ele também vai me estender a mão e me ajudar a sair desse buraco.

7. Você adentra outro campo perigoso. Entende que devemos enfrentar os “anacronismos da tradição”. Fazer a tradição submetida à Palavra. Escorar a estrutura com tijolos belos e bem recortados, apoiando-os com grossa argamassa, encobrindo suas fissuras com reboco de cimento, e adorná-la de lindos vitrais... enfim dar por concluído o lindo projeto. Nisso concordamos. Nas entrelinhas, porém, vejo que você quer introduzir ou justificar inovações litúrgicas que chocam as liturgias tradicionais. Inovações litúrgicas podem ajudar na expressão da alegria que caracteriza um viver cheio do Espirito. Não adianta você tentar negar, todo carismático acaba se contentando apenas com o ser característico apenas inovador litúrgico. Isso se dá por que não poderá afirmar e reafirmar que o falar em línguas e/ou o exercitar de outros dons de sinais indica de fato a plenitude do Espirito. A pessoa cheia do Espirito é a que lá fora testemunha no poder que o revestimento do Espirito dá e vive a missão integralmente e... aqui dentro, na igreja, louva, adora, no Espirito, com a liberdade que o Espirito dá... Entram as danças litúrgicas e até introdução do hip-hop nos cultos? Por que, afinal excluir determinada expressão cultural do culto? Por que considerar mundanos certos ritmos? Nem certos ritmos, tampouco certas expressões. O velho e o novo são bem caracterizados nas expressões “traditional” e “contemporary”. Se isso é algum material básico ou de acabamento a ser aproveitado, eia, vamos aproveitar... Mas como vejo que isso é pedra, tem ainda muito a que lapidar.

8. Arranho o perigo de você rotular novo e velho; “traditional” e “contemporary”. E aqui você se prepara por que vêm palavras fortes. Ronca a tapera velha. Quando a gente adentra o campo, o contexto do culto divino, para questionar o que pode ser mais santo e agradável a Deus, ou por que determinada expressão externa ofertada não foi, ou não pôde ser aceita, há risco grande de termos vitima ao chão com sangue derramado; agressor do lado; e o quadro se completa com a oferta sangrenta caída defronte do altar. O conflito de irmãos gêmeos que desejam a mesma coisa de formas diferentes, trazendo que em essência podem ser muito diferentes. Os gêmeos devem vistos sem serem listados. Quando se lista o novo, contrapõe o velho, como é que você acha que este se sente? Lista o “bem”, contrapõe o “mal”... O “contrapostado” ferido fica com o semblante descaído. Você lista o “belo”, e o “feio”? Gêmeos se agridem, se deixam agredir ou um deles de inopino é agredido. Eu tenho aprendido, a propósito, nesses meus dias pós-mortem, que não devo listar... Adjetivar.... Devo tentar ser reformado, crente, evangélico, adorando a Deus, em espírito e verdade, mesmo que não consiga, por mera culpa e responsabilidade minha. Listar alguém em que isso pode me ajudar? ...E você me ajuda? De alguma maneira penso que você quer me ajudar...

9. Nova Dolentia. O que ajuda a trazida da idéia de “novo calvinismo”, como um novo caminho, nova luz, nova sacada? Uma obra continuadora do que ficou abandonado no passado (continuing)? É até plausível, o ser novo calvinista, no sentido de ser calvinista de novo. Como no passado, seremos de novo. Era a proposta do Rev Abraham Kuipper na chamada Dolentia de 1886. No contexto tínhamos uma igreja reformada, herdeira do calvinismo que tinha deixado de ser preponderantemente calvinista na melhor acepção dos termos. Havia uma ortodoxia calvinista que não se fazia cediça a uma ortopraxia, havia o pietismo de calvinismo mitigado com elementos remonstrantes e até pré-carismáticos (revivalistas) e um liberalismo teológico que se dizia o calvinismo progressivo, do tipo “reformata semper reformanda”, corrente majoritária. Havia um clero profissional, a expressão exata da maria-vai-com-as-outras. As pessoas na igreja tinham esquecido as confissões de fé e não se atinavam para o seu valor em termos de trazer mais vida à igreja e ao seu testemunho no mundo. Essa era a idéia de tentar ser calvinista de novo, num mundo novo, enfrentando novos desafios de um novo século que se avizinha. Mas o que é seu neo-calvinismo? Seria uma nova maneira de resgatar, atualizar e cultivar o pensamento do Reformador João Calvino, a começar pelas doutrinas da graça? Uma nova maneira de renovar o interesse por Calvino nos dias de hoje? Esse movimento neo-calvinismo permanece nos dias de hoje. O seu tenta combinar o calvinismo com o neo-pentecostalismo e outras contribuições modernas da Igreja e para a Igreja. Isso é indiscutivelmente meritório e condição indispensável para trazer a Reforma em sua integralidade para os dias de hoje? Isso ajuda? Essa nova coisa, até o novo calvinismo de Kuipper, não é nova reforma, e quando mesclada de pentecostalismo, liberalismo e outros ismos... Redunda não num, mas em diversos neos-calvinismos. Diria, no entanto, que não há, acho, achava, sei lá, já não estou discordando de nada, como dizer “neo-reformado”. Nova dolentia não, né?

10. O que traz de realmente novo esses “neo-calvinistas” de que você tem falado? Está embasado nas idéias de Mark Driscoll, que segundo soube trata-se de um novão, digamos, tiozinho sukita, de uns quarenta e poucos anos, calvinista de 4 pontos (amyraldiano), adepto da predestinação simples. Adepto da igreja emergente. Um calvinista de bermudas. Esse negócio de Bermudas me pressagia muito mal. Por algumas motivos, acho que talvez você tenha chamado equivocadamente chamado esses “driscollianos” de “neo-reformados”. Estão certo em muitas coisas. Pela minhas contas, tendo eles deduzidos 20% dos pontos calvinistas, probabilisticamente talvez estejam 80% certo. Um alto índice. Mas quanto ao fator novidade? Colocar a Escritura acima da Tradição é realmente novo? Significa ter que necessariamente ser premido a desprezar da Tradição? Você já diz que não...

11. É novidade “reconhecer que a cultura e a sociedade do século XXI trazem os seus próprios desafios e acreditar que a Bíblia tem uma resposta para o nosso tempo”? Sim, a Bíblia tem respostas. A ciência tem respostas. Por que tenho que chocar as respostas da Ciência com pseudas-respostas “cientificas” da Bíblia?

12. Ser calvinista de teologia reformada sem ser calvinista de sistema de governo próprio e de visões próprias acerca de expiação, batismo, escatologia, dons etc, é algo novo, ou é algo que sempre fizeram por ai os indepedents?

Continuo...