terça-feira, 4 de agosto de 2009


Introdução
O livro de Juízes tem sua atualidade face à correspondência entre os tempos de transição pelos quais ciclicamente se passam, inclusive na atualidade, e os tempos vividos em Israel quando este não passava de tribos ou clãs obscuras e esparsas de adoradores de um tal “Javé”. A transição para a liberdade com o fim de todo o totalitarismo, eis o nosso caminho. “Se o Filho vos libertardes, sereis verdadeiramente livres”. Ressalvadas as diferenças, eis também o caminho trilhado antes pelas nossas primordiais Tribos de Javé, filhos das quais somos, modernos pertencentes.
Como herdeiros da promessa divina, nosso povo saúda a esperança do novo e da renovação. Entusiasma-se com o advento de “juízes” do porte de Getúlio Vargas. Este rompe com a oligarquia de uma velha ordem republicana viciada. Promove a descentralização dó poder colocando-o às mãos de interventores oriundos das classes populares e integrantes, em grande número, do Poder Judiciário. A salvação nacional desabrocha em todo o território nacional, embala sonhos dos jovens tenentes... Para depois descambar em ditadura. Quem era “juiz” passa assumir o papel de réu liberticida.
A propósito disso, há figura que marca presença lá e cá, então e agora: a “pedra no meio do caminho” de que falava o poeta, o Abimeleque (“Rei é Deus”) de plantão. [1]Veja a figura representativa do poder constituído bruto existente não para servir ao povo, mas para oprimí-lo, minando-lhe a fé, desafiando os seus valores. Com ele toda a horda de moabitas, midianitas, amonitas, edomitas, filisteus... E se tantos inimigos de fora já não bastassem, há os inimigos “de sua própria casa”. No dizer de Storniolo “para que serve o poder se apenas os inúteis o cobiçam?”... O poder só se justifica para quem o exerce “de tal maneira que pouco a pouco ele se torne desnecessário e desapareça”. Poder maior e melhor é o de nos encomendar às mãos do Todo-Poderoso e deixar que tão somente Ele aja em nosso favor.
O livro de Juízes nos conta as estórias de Gedeão e Sansão, este figura até imortalizada por Holyhood, que nos remete às peças literárias que estão entre as mais belas de todos os tempos. Mas salta aos olhos nos dias de hoje a fé que tinham em seu Deus Javé, esses israelitas entre os poderosos cananeus, já que era pouca a revelação disponível. E hoje, “quando vier o Filho do Homem encontrará fé sobre a terra?” É o livro de Juízes a nos inspirar. Corria um tempo remoto, “não havia ainda rei em Israel...” Mas já havia a fé imorredoura dos nossos pais primordiais.
Titulo e Lugar no Canon
O livro, cujo título hebraico é “sôpetim – em referencia aos “sopet”, pessoas que foram “juízes” apenas secundariamente. Foram antes de tudo “salvadores” e “libertadores” do povo. Se bem que o verbo em hebraico quer dizer tanto “julgar” como “governar”, algo semelhante à função de magistrado do tempo anterior à tri-partição dos poderes do Estado – coisa recentíssima, aliás. Viveram depois de Moisés e depois da Conquista de Canaã por Josué, despontando a partir do desaparecimento de Calebe, o último destemido espião israelita às terras de Canaã, tendo encerrado este período com a vida e ministério de Samuel que veio encerrá-lo com a unção de Saul como rei de Israel, à semelhança dos demais povos vizinhos.
Trata-se de um livro histórico, posicionado na Bíblia Hebraica na segunda das três divisões: Lei, Profetas e Escritos, tratando-se, pois, do segundo livro dos Profetas Anteriores. Faz parte da História Deuteronônica que inclui o Deuteronômio, Josué, Juízes, Samuel e Reis.
Divide-se naturalmente em três partes: 1. Conquista incompleta de Canaã – 1:1-2:5; 2 –Israel no Período dos Juizes – 2:6-16:31 e 3- Apêndices – 17:1-21:35.
Composição, estrutura e data
Compilação de histórias independentes que contém uma introdução editorial e comentário. Essas foram justapostas pelo editor para contar o estabelecimento das tribos de Israel, Filhos de Raquel e de Lía, em Canaã, as vicissitudes dos juízes em seu projeto de redenção do povo sob domínio opressor dos inimigos da partilha, da comunhão, da piedade e da devoção ao Deus invisível, mas real, e os incidentes finais que se juntam como apêndice.
Na sua composição temos estágio oral, depois a colocação das tradições por escrito, editoração e, por fim, adição da introdução. Termina pelo começo. Foi completada no período inicial do cativeiro babilônico, no Século VI ou V A.C.
Importância
A. Política e Religiosa. Cundall assegura que a estrutura política da época dos juízes podia ser descrita como anfictiônica, que vem de anfictione “cada membro do conselho de representantes dos antigos estados gregos que se reuniam para deliberar assuntos de interesse geral”. No caso a anfictionia era uma assembléia de tribos unidas por um laço religioso. Se for certo isso havia muitas anfictionias. Mas, Donner contesta isso e ressalta o isolacionismo e fragmentacionismo das tribos que viviam cada uma por si carecendo até de um santuário central – e havia muitos esparsos e fragmentários. Não havia mais um só rebanho para um só pastor. De qualquer sorte, é curioso ver a fé de Javé impor-se em meio a tantas expressões religiosas de povos letrados como egipcios, assírios, gregos, persas e tantos outros, com os seus panteões, baais e astarotes e seus sistemas sacerdotais, políticos e militares.
B. Problemas morais levantados. As falhas são apontadas até dos juízes. Há um certo clima de iconoclastia no ar. Eles não eram perfeitos. Ninguém é perfeito. Esse é um aspecto da revelação redentiva de Deus. Perfeito é só Deus. Diante da fragilidade humana, Deus é forte!
C. O Valor Religioso Permanente do Livro de Juízes.
1. Deus é Justo. É verdade que o baixo padrão de conduta é explicado pela ausência de liderança humana “cada um fazia o que achava correto”. Mas a miséria maior consistia no fato de que o povo das tribos de Javé se afastou do Deus Santíssimo revelado por intermédio do Seu Profeta e Legislador Moisés, fato que representava uma afronta à justiça de Deus que visitaria o seu povo com julgamento sobre a vara dos midianitas e outros. “Uma nação que abandona o Senhor ou rebaixa ou compromette Seus padrões, não pode esperar prosperidade em nenhum sentido”.
2. Deus é soberano. Caráter soberano de Javé se demonstra tanto no sua “ira” como no seu amor demonstrado na dispensação de um poder sobrenatural para libertar o povo por meio , por exemplo de Gedeão que constitui um exercito de 32 mil que depois foi reduzido para 300 para destroçar os milhares de midianitas, liberando assim o povo do jugo. Cundall disse “talvez seja necessário lembrar o povo de Deus, em nossa própria geração conturbada, que essa soberania permanece intacta. Ele ainda está no trono”.
3. Deus é magnânimo e cheio de graça. O ciclo de pecado, servidão, súplica e livramento se repete até monotonamente. O crente de hoje se admira como é que pode Israel ser assim tão obstinado, até que ele próprio olhe para dentro de seu coração, e pese sua experiência. Ainda bem que há a constância de Deus em nos assistir e nos dar uma nova oportunidade de recomeço mediante a graça que ele faz soar nesse livro.
4. A importância da fé. Em nossa visão desses juízes talvez pouca há que nos inspire, a não ser aquela fé que coopera com ação divina sobrenatural e por o escritor de Hebreus pôde depor: “E que mais direi ainda? Certamente me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gedeão, de Baraque, de Sansão, de Jeftém... os quai,s por meio da fé, subjugaram reinos...” Heb. 11:32,33. “As pessoas que conhecem o seu Deus (e como é imensamente maior a revelação de Deus concedida a nós) e tem a fé nele pode realizar feitos poderosos (cf. Dn. 11:32)” – Cundall.
D. Sobre o capitulo 1 até o 2:5 – Conquista do sul de Canaã – Captura de Betel, Catálogo de territórios não ocupados e os efeitos da aliança quebrada. A metáfora da armadilha. A tensão do que é e do que haverá de ser... Tudo muito sugestivo: Introduz os protagonistas do drama: os Juízes que entrarão em cena a partir da próxima semana.
Um grande abraço.
Anamim Lopes Silva - 03/08/2009. Palestra dada no Grupo Liderança Cristã do Poder Judiciário.
[1] Eis então Abimeleque, rei de Siquém, filho de Gedeão, através de uma concubina (ver Juí.8:31). Esta relação envolveu um casamento matrilinear, segundo o qual a esposa vive na casa de seus pais, e os filhos ficam pertencendo ao clã materno. Quando Gideão morreu, este homem quis tornar-se rei, primeiramente através dos chefes de seu clã, e depois por aclamação popular. Para consolidar sua autoridade, mandou matar os setenta filhos de seu pai. (Ver Juí. 9:7-11).

2 comentários:

Anônimo disse...

Esses blogs com texto de patristica, que podem ser úteis para você

http://patristicabrasil.blogspot.com/

http://textosantigos.blogspot.com/

Helder Nozima disse...

Anamim,

Uma coisa é neocalvinismo. Esse é holandês, começa lá com Kuyper.

Outra é novo calvinismo. Piper, Driscoll, Grudem e outros.

Se você quer espanar, deveria, pelo menos, conhecer o mínimo do movimento. Se você não sabe a diferença, já é um mau começo.

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro