quarta-feira, 8 de julho de 2009

Igreja Reformada Holandesa e a Teologia do Apartheid na África do Sul.

1829 - A Confissão de Belhar tem como pano de fundo a história e a teologia racial, racista, segregacionista do apartheid na África do Sul. O ponto de referência comum em tudo isso, dentro do arcabouço histórico da igreja, é a Igreja Reformada Holandesa (DRC, ou NGK - http://www.ngkerk.org.za/). A separação com base na raça remonta a 1829. O Presbitério da Cidade do Cabo da DRC reunido em 29 de abril de 1829 para tratar de uma consulta da igreja local de Somerset West dizia respeito à administração da Santa Comunhão a quem se chamou de “pessoas de ‘cor’”. A pergunta a ser considerada era se “às pessoas de ‘cor’, que foram confirmadas e batizadas, devem ser concedidos, juntamente com os ‘cristãos nascidos de novo’ (pessoas brancas), fazer parte da Ceia do Senhor ou se estas pessoas devem tomar parte da Santa Comunhão separadamente.

- 1857 - No Sínodo de 1857 da DRC esta pergunta sobre a segregação ou não, foi tratada e pavimentou a forma pela qual na prática veio expressar a separação e o racismo da igreja. O Sínodo de 1857 expressou em linguagem ambígua que indicava claramente que não poderia seguir a risca os claros ensinos contidos nos princípios bíblicos. Disseram SIM tanto na questão de receber as “pessoas de cor” num mesmo corpo espiritual quanto a que eles deveriam tomar comunhão separadamente. Ante sua inabilidade em adotar posição qualificada sobre a matéria, abriu as portas para o apartheid eclesial e social. Na decisão do Sínodo da DRC se lê: 'O Sínodo considera desejável e de acordo com a Santa Escritura que os nossos membros ‘de cor’ (não-brancos) fossem aceitos e iniciados em quaisquer de nossas igrejas locais se isso fosse possível; mas aonde esta medida for adotada, como resultado da fraqueza de alguns, poderia obstaculizar a obra de Cristo entre as pessoas ‘de cor’ (heathen), em seguida as igrejas deveriam ser ajustadas às pessoas ‘de cor’, ou ainda ajustarem-se de modo que pudessem desfrutar dos privilégios cristãos em edificações ou instituições separadas”.

Esta decisão provocou “a solução final” para este problema de cor (heathen), com o estabelecimento da primeira igreja separada racialmente em 1881, chamada a Igreja da Missão Reformada Holandesa para as Pessoas de “cor” (DRMC- Sendingkerk). Depois de que a DRC puderam ser estabelecidas as igrejas racialmente separadas para os negros, que foi chamada Igreja Reformada Holandesa em África (DRCA), e para os indianos, a Igreja Reformada na África (RCA).

A teologia do apartheid entranhou-se na DRC, a qual foi clarificada quando o jornal oficial dela o “Kerkbode” escreveu em seu editorial em setembro de 1948, depois que o Partido Nacional chegou ao poder sobre a plataforma política do apartheid, “Apartheid é uma política da igreja”. Esta política significa na África do Sul, o supremacia branca e que todas as outras raças eram inferiores e deveram ser tratadas de maneira inferior. O resultado foi a opressão às pessoas inferiores não-brancas da África do Sul e da posição de privilégio dos brancos. A igreja (DRC) e o estado estavam ligados inextricavelmente em uma união não santa. O estado recebeu o revestimento protetor moral e teológico para as suas políticas injusta e do apartheid da DRC.

A resposta da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas (Agosto de 1982)
Após décadas de esforço do lado das igrejas reformadas negras para retificar a situação, o tema teologia e prática racial na África do Sul entrou em pauta na reunião da Assembléia Geral da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas (WARC) em Ottawa, Canadá (WARC - Agosto de 1982), por que a DRC, DRMC, DRCA e a RCA, eram membros da WARC. O Dr. Allan Boesak da então DRMC pediu à WARC para proferir um discurso sobre a situação na África do Sul. Em um discurso intitulado 'Ele nos fez todos, à exceção de...”, Dr. Boesak foi de encontro com o racismo e com o apartheid. Indicou que a WARC deve ter responsabilidade para com suas igrejas membros na África do Sul, que sofrem sob a teologia e a política do apartheid. Boesak pôs a DRC e outras igrejas reformadas brancas no meio deste debate, disse ele, “por conseguinte as igrejas brancas membros têm responsabilidade direta e o poder de mudar fundamentalmente a situação se quiserem. Devem ser dirigidas nos termos dessa responsabilidade e nos termos do desenvolvimento histórico do apartheid porque foi dirigido por essas igrejas. A WARC deve aceitar o desafio de dirigir-lhes o significado do apartheid como traição ao Evangelho e seja apresentado como indigno da tradição reformada”.

Em sua resposta, a WARC disse que: 'as Igrejas Reformadas Africanas Brancas através dos anos tem neste detalhe funcionado fora da própria política e da própria justificação teológica e moral para o sistema. O apartheid é conseqüentemente uma ideologia pseudo-religiosa tanto quando uma posição política. Deriva disso a sua justificação moral e teológica. A divisão das igrejas reformadas na África do Sul com base na raça e na cor está sendo defendida como uma interpretação fiel da vontade de Deus e da compreensão reformada da igreja no mundo'.

A WARC declarou que a situação na África do Sul constituiu-se em status confessionis – pelo que significa na compreensão da WARC acerca da matéria é impossível diferir sem seriamente abrutalhar a integridade de nossa confissão comum como igrejas reformadas.

Com base nesta situação, a WARC fez a seguinte declaração. “Declaramos com os cristãos reformados negros da África do Sul que o apartheid (desenvolvimento separado) é pecado, e que a justificação moral e teológica dele é uma falsificação do Evangelho e, em seu desobediência persistente à Palavra de Deus, uma heresia teológica”.

A DRMC em seu Sínodo no ano seguinte aos passos dados pela WARC declarou o seu status confessionis. A igreja concluiu que em uma situação como essa você tem que confessar de novo as verdades da Bíblia em confronto com à luz do pseudo-evangelho. A DRMC decidiu por redigir uma Confissão a fim fazê-lo. Era uma confissão em forma de conceito, que foi distribuído à toda a igreja inteira para os comentários e deveria ser finalizado no Sínodo seguinte a ser realizado em 1986. No Sínodo de 1986 da DRMC a Confissão foi aceita e se chamou a Confissão de Belhar de 1986. O nome Belhar na Confissão se refere subúrbio da Cidade do Cabo do mesmo nome aonde o Sínodo se reuniu. Esta confissão foi adotada também pelo DRCA. Quando a DRMC e a DRCA foram unificadas em 1994, dando forma a uma igreja nova, a Igreja Reformada Unida na África do Sul (URCSA -
http://www.ngkerk.org.za/VGKSA/Default.asp) transformou-se parte da base confessional da URCSA. Durante o Sínodo da DRMC em 1990, um monumento foi erigido e dedicado à ocasião da aceitação da Confissão de Belhar pelo então Moderador.
Re-dedicação do monumento de Belhar

Em 30 de setembro de 2006, o monumento Belhar monument foi re-dedicadoi pelo moderador do Sinodo Geral da URCSA, Prof. S. Thias Kgatla.
O monumento de Belhar é um dos locais históricos mais visíveis e mais importantes da Igreja Reformada Unida na África do Sul. Em 30 de setembro de 2006, o Conselho da Igreja Gestig (a igreja local mais antiga da URCSA) em cuja propriedade o monumento foi construído transferiu o local simbolicamente ao Sínodo Geral, para que cuidados especiais de preservação fossem adotados pela igreja em nível nacional.

E a DRC, ou NGK? Segundo o site
http://www.ngkerk.org.za/english/history.asp?button_pushed=2, desde 1994 o ideal de unificação com a Igreja Reformada Unida na África do Sul tem sido perseguido e concretizado em reuniões conciliares em conjunto entre a DRC a URCSA e RCA e há muita coisa ainda a ser feita para a plena unificação. Há questões teológicas outras a demarcar visíveis distinções. Mas é absolutamente alentador o fato de que ninguém mais defende ou justifica o apartheid. De fato, nas últimas décadas do Século passado, a DRC tem sofrido seriamente por causa do relacionamento igreja e sociedade, o que resultou na publicação do documento “Igreja e Sociedade” em 1990 e a rejeição um tanto tardia ao apartheid somente em 1998.
Muito recentemente, em 2007, a Reformed Church na América – RCA - http://www.rca.org/ - antiga Igreja Reformada Holandesa dos EUA, uma igreja bem liberal, bastante deferente de sua co-irmã CRCNA - http://www.crcna.org/ - não se fez de rogada e incluiu aos seus padrões confessionais a Confissão de Belhar, agora os símbolos de união “adotados” por lá não são mais três (Confissão Belga, Cânones de Dort e Catecismo de Heildelberg) mas 4, estes e mais a Confissão de Belhar.

Fontes: Informações dos sites mencionados.

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