terça-feira, 4 de agosto de 2009


Introdução
O livro de Juízes tem sua atualidade face à correspondência entre os tempos de transição pelos quais ciclicamente se passam, inclusive na atualidade, e os tempos vividos em Israel quando este não passava de tribos ou clãs obscuras e esparsas de adoradores de um tal “Javé”. A transição para a liberdade com o fim de todo o totalitarismo, eis o nosso caminho. “Se o Filho vos libertardes, sereis verdadeiramente livres”. Ressalvadas as diferenças, eis também o caminho trilhado antes pelas nossas primordiais Tribos de Javé, filhos das quais somos, modernos pertencentes.
Como herdeiros da promessa divina, nosso povo saúda a esperança do novo e da renovação. Entusiasma-se com o advento de “juízes” do porte de Getúlio Vargas. Este rompe com a oligarquia de uma velha ordem republicana viciada. Promove a descentralização dó poder colocando-o às mãos de interventores oriundos das classes populares e integrantes, em grande número, do Poder Judiciário. A salvação nacional desabrocha em todo o território nacional, embala sonhos dos jovens tenentes... Para depois descambar em ditadura. Quem era “juiz” passa assumir o papel de réu liberticida.
A propósito disso, há figura que marca presença lá e cá, então e agora: a “pedra no meio do caminho” de que falava o poeta, o Abimeleque (“Rei é Deus”) de plantão. [1]Veja a figura representativa do poder constituído bruto existente não para servir ao povo, mas para oprimí-lo, minando-lhe a fé, desafiando os seus valores. Com ele toda a horda de moabitas, midianitas, amonitas, edomitas, filisteus... E se tantos inimigos de fora já não bastassem, há os inimigos “de sua própria casa”. No dizer de Storniolo “para que serve o poder se apenas os inúteis o cobiçam?”... O poder só se justifica para quem o exerce “de tal maneira que pouco a pouco ele se torne desnecessário e desapareça”. Poder maior e melhor é o de nos encomendar às mãos do Todo-Poderoso e deixar que tão somente Ele aja em nosso favor.
O livro de Juízes nos conta as estórias de Gedeão e Sansão, este figura até imortalizada por Holyhood, que nos remete às peças literárias que estão entre as mais belas de todos os tempos. Mas salta aos olhos nos dias de hoje a fé que tinham em seu Deus Javé, esses israelitas entre os poderosos cananeus, já que era pouca a revelação disponível. E hoje, “quando vier o Filho do Homem encontrará fé sobre a terra?” É o livro de Juízes a nos inspirar. Corria um tempo remoto, “não havia ainda rei em Israel...” Mas já havia a fé imorredoura dos nossos pais primordiais.
Titulo e Lugar no Canon
O livro, cujo título hebraico é “sôpetim – em referencia aos “sopet”, pessoas que foram “juízes” apenas secundariamente. Foram antes de tudo “salvadores” e “libertadores” do povo. Se bem que o verbo em hebraico quer dizer tanto “julgar” como “governar”, algo semelhante à função de magistrado do tempo anterior à tri-partição dos poderes do Estado – coisa recentíssima, aliás. Viveram depois de Moisés e depois da Conquista de Canaã por Josué, despontando a partir do desaparecimento de Calebe, o último destemido espião israelita às terras de Canaã, tendo encerrado este período com a vida e ministério de Samuel que veio encerrá-lo com a unção de Saul como rei de Israel, à semelhança dos demais povos vizinhos.
Trata-se de um livro histórico, posicionado na Bíblia Hebraica na segunda das três divisões: Lei, Profetas e Escritos, tratando-se, pois, do segundo livro dos Profetas Anteriores. Faz parte da História Deuteronônica que inclui o Deuteronômio, Josué, Juízes, Samuel e Reis.
Divide-se naturalmente em três partes: 1. Conquista incompleta de Canaã – 1:1-2:5; 2 –Israel no Período dos Juizes – 2:6-16:31 e 3- Apêndices – 17:1-21:35.
Composição, estrutura e data
Compilação de histórias independentes que contém uma introdução editorial e comentário. Essas foram justapostas pelo editor para contar o estabelecimento das tribos de Israel, Filhos de Raquel e de Lía, em Canaã, as vicissitudes dos juízes em seu projeto de redenção do povo sob domínio opressor dos inimigos da partilha, da comunhão, da piedade e da devoção ao Deus invisível, mas real, e os incidentes finais que se juntam como apêndice.
Na sua composição temos estágio oral, depois a colocação das tradições por escrito, editoração e, por fim, adição da introdução. Termina pelo começo. Foi completada no período inicial do cativeiro babilônico, no Século VI ou V A.C.
Importância
A. Política e Religiosa. Cundall assegura que a estrutura política da época dos juízes podia ser descrita como anfictiônica, que vem de anfictione “cada membro do conselho de representantes dos antigos estados gregos que se reuniam para deliberar assuntos de interesse geral”. No caso a anfictionia era uma assembléia de tribos unidas por um laço religioso. Se for certo isso havia muitas anfictionias. Mas, Donner contesta isso e ressalta o isolacionismo e fragmentacionismo das tribos que viviam cada uma por si carecendo até de um santuário central – e havia muitos esparsos e fragmentários. Não havia mais um só rebanho para um só pastor. De qualquer sorte, é curioso ver a fé de Javé impor-se em meio a tantas expressões religiosas de povos letrados como egipcios, assírios, gregos, persas e tantos outros, com os seus panteões, baais e astarotes e seus sistemas sacerdotais, políticos e militares.
B. Problemas morais levantados. As falhas são apontadas até dos juízes. Há um certo clima de iconoclastia no ar. Eles não eram perfeitos. Ninguém é perfeito. Esse é um aspecto da revelação redentiva de Deus. Perfeito é só Deus. Diante da fragilidade humana, Deus é forte!
C. O Valor Religioso Permanente do Livro de Juízes.
1. Deus é Justo. É verdade que o baixo padrão de conduta é explicado pela ausência de liderança humana “cada um fazia o que achava correto”. Mas a miséria maior consistia no fato de que o povo das tribos de Javé se afastou do Deus Santíssimo revelado por intermédio do Seu Profeta e Legislador Moisés, fato que representava uma afronta à justiça de Deus que visitaria o seu povo com julgamento sobre a vara dos midianitas e outros. “Uma nação que abandona o Senhor ou rebaixa ou compromette Seus padrões, não pode esperar prosperidade em nenhum sentido”.
2. Deus é soberano. Caráter soberano de Javé se demonstra tanto no sua “ira” como no seu amor demonstrado na dispensação de um poder sobrenatural para libertar o povo por meio , por exemplo de Gedeão que constitui um exercito de 32 mil que depois foi reduzido para 300 para destroçar os milhares de midianitas, liberando assim o povo do jugo. Cundall disse “talvez seja necessário lembrar o povo de Deus, em nossa própria geração conturbada, que essa soberania permanece intacta. Ele ainda está no trono”.
3. Deus é magnânimo e cheio de graça. O ciclo de pecado, servidão, súplica e livramento se repete até monotonamente. O crente de hoje se admira como é que pode Israel ser assim tão obstinado, até que ele próprio olhe para dentro de seu coração, e pese sua experiência. Ainda bem que há a constância de Deus em nos assistir e nos dar uma nova oportunidade de recomeço mediante a graça que ele faz soar nesse livro.
4. A importância da fé. Em nossa visão desses juízes talvez pouca há que nos inspire, a não ser aquela fé que coopera com ação divina sobrenatural e por o escritor de Hebreus pôde depor: “E que mais direi ainda? Certamente me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gedeão, de Baraque, de Sansão, de Jeftém... os quai,s por meio da fé, subjugaram reinos...” Heb. 11:32,33. “As pessoas que conhecem o seu Deus (e como é imensamente maior a revelação de Deus concedida a nós) e tem a fé nele pode realizar feitos poderosos (cf. Dn. 11:32)” – Cundall.
D. Sobre o capitulo 1 até o 2:5 – Conquista do sul de Canaã – Captura de Betel, Catálogo de territórios não ocupados e os efeitos da aliança quebrada. A metáfora da armadilha. A tensão do que é e do que haverá de ser... Tudo muito sugestivo: Introduz os protagonistas do drama: os Juízes que entrarão em cena a partir da próxima semana.
Um grande abraço.
Anamim Lopes Silva - 03/08/2009. Palestra dada no Grupo Liderança Cristã do Poder Judiciário.
[1] Eis então Abimeleque, rei de Siquém, filho de Gedeão, através de uma concubina (ver Juí.8:31). Esta relação envolveu um casamento matrilinear, segundo o qual a esposa vive na casa de seus pais, e os filhos ficam pertencendo ao clã materno. Quando Gideão morreu, este homem quis tornar-se rei, primeiramente através dos chefes de seu clã, e depois por aclamação popular. Para consolidar sua autoridade, mandou matar os setenta filhos de seu pai. (Ver Juí. 9:7-11).

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A QUARTA ÊNFASE DO SER REFORMADO


A IGREJA INTERPENETRADA PELO MUNDO.
TENTATIVAS DE ENSAIOS SOBRE A QUARTA ÊNFASE DO SER REFORMADO/3.
REFLEXÕES DIÁRIAS.
Tendo como pano de fundo a igreja interpenetrada pelo mundo, com a influência deletéria desde sendo sentida, inclusive nos concílios superiores da IPB, onde afloram os conchavos, alianças espúrias, em arremedo à reunião de Lula, Sarney e Collor, referi-me antes às três ênfases do ser reformado: - A doutrinalista. - A pietista. E a transformalista. O que você pode rever nos primeiros posts desse blog.

Essas três ênfases foram sugeridas pela Junta de Educação Teológica da Igreja Cristã Reformada da America do Norte e tendo achado interessante as incorporei em estudo que estamos fazendo na Escola Dominical em nossa igreja. Tenho recebido muitos feedbacks positivos acerca desse estudo, pelo que fico gratificado.
Mas, resumindo e recapitulando, a primeira ênfase ou mentalidade é a doutrinalista. Reformado nesse sentido refere-se à forte adesão a determinadas doutrinas cristãs ensinada nas Escrituras e refletidas nos Confissões ou declarações de fé comunitárias ou universais da igreja.
A segunda é a pietista, que diz respeito à vida cristã e ao relacionamento pessoal com Deus. A pergunta para os pietistas é: como nós experimentamos Deus em nossa caminhada diária da fé?
A terceira ênfase ou mentalidade é a transformacionalista. Reformado aqui concerne ao relacionamento do cristianismo e a cultura, a uma visão de mundo e vida e de Cristo como cultura de transformação.
Obviamente são três ênfases ou mentalidades que se sobrepõem e se completam. Uma induz a outra. A boa doutrina leva a vida de piedade que busca transforma o meio e não ser transformado por este.
É uma negação do ser reformado de "uns" que numa só pessoa ou grupo junta má teologia, má e falsa piedade e numa vida derrotado absorvida pelo meio.

Mas para quem contempla as três visões, não há um divisor entre elas. Representam, no entanto, três abordagens distintas, tanto históricas quanto conceituais, e fornecem a estrutura para apresentação de dezesseis palavras-chaves ou frases que sumarizam o que se chamou de sotaque reformado. Eis então:
A Ênfase Doutrinalista
1. Escritura (2 Timóteo 3:16);
2. Criação/queda/redenção (Colossenses 1:15-20);
3. Graça (Efésios 2:8-10)
4. Aliança (Jeremias 31:31-34)
5. Graça Comum (Mateus 5:43-48)

Ênfase Pietista
1. Relacionamento pessoal com Jesus
2. o Espírito Santo (Romanos 8:1-17)
3. Gratidão (Colossenses 3:15-17)
4. A Igreja (Efésios 4:1-16)
5. Palavra e Sacramento (Romanos 10:14-15; Mateus 28:16-20; e 1 Coríntios 11:23-26)

Ênfase Transformacionista
1. Jesus é Senhor (Filipenses 2:11)
2. Palavra e obras (Tiago 2:14-17)
3. Reino (Mateus 6:10)
4. O mandato cultural (Genesis 1:27-28)
5. Educação Cristã (Provérbios 9:10)
5. Vocação cristã (Efésios 4:1)
Dei todo o script neste blog para você se aprofundar no estudo e na reflexão com a Palavra de Deus aberta, mas não hesite em começar pela leitura destes. E a minha oração, no nome santo de Jesus, é para você que me lê para criticar; buscando quem sabe até uma menção de um nome qualquer das figuras pálidas e peçonhentas, para poder me processar e liquidar: mesmo que você não queira ou não permita, mesmo que o seu interesse seja somente o vil metal e a raiz de todo mal, o Espírito Santo possa falar em seu coração e mudar a sua vida.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

LULA, COLLOR E SANEY E OS CONCÍLIOS DA IPB


A IGREJA INTERPENETRADA PELO MUNDO.
TENTATIVAS DE ENSAIOS SOBRE A QUARTA ÊNFASE DO SER REFORMADO/2.
REFLEXÕES DIÁRIAS.
Tempo estranho em que vivemos, no mundo e na igreja. Não acham? No mundo juntam-se Lula, Collor e Sarney numa aliança que todo o Brasil tem a perder. Com gente pouco se lixando para opinião pública. Na igreja “uns” celebram alianças com “aqueles”, brindados pela incompetência da má interpretação bíblica, teológica e constitucional. O Inimigo dá o presente, monta o rancho e chama toda a súcia para assentar-se à mesa e conduzir os trabalhos, como numa grande cama king size em que quase tudo se dá por debaixo dos panos. Os relapsos, coniventes, inocentes úteis, de má ou boa fé, são os padrinhos. Quem paga o biscoito é o povo crente que com seu esforço mantém o corpo... E o câncer no corpo que o corrói e o mata.
Lembro-me do meu pé de limão siciliano. A enforcadeira ataca por cima, pulgões as folhas, a seca inclemente suga a umidade, os cupins do monte, as raízes; a broca sem piedade corrói... E o broto ladrão oportunista inventa de sobressair, aproveitar a chance, “chegou a minha vez”. Até o “galho seco” festeja “quero seiva, a seiva... voltou a minha vez”. Até tu galho seco empedernido? E ai vem o agricultor desavisado com uma lata de óleo combustível queimado e acha o buraco da broca e mete ali o óleo queimado que é sugado pela planta no seu afã de sobreviver. Deu pra ti pobre pé de limão siciliano!
Seria triste o destino que poderia marcar a igreja institucional se realmente seguisse o caminho do mundo, como obrigação.
Esses dias eu ouvi pela Rádio CBN, uma fala do Flávio Gikovati que realmente fez sentido. Alguém lhe reportava uns desejos estranhos, digamos, "homoafetivos", que não gostava cumprir. Desejos que quando cumpridos lhe causavam terrível dor e desconforto. Ao responder-lhe o psicanalista lhe lembrou que desejo é desejo e não uma obrigação. “E se realmente algo vai lhe fazer mal, simplesmente diga não ao desejo".
Daí eu dizer que a Igreja pode até ter desejo de seguir o mundo, mas nunca pode ficar na obrigação de fazê-lo. Quando se tem obrigação de cumpri um desejo, já não é um desejo, é vício. É a submissão ao império dos desejos. Desejos das trevas. Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor. Colossenses 1:13.
No entanto, é isso que afirmam que ocorre. Quando havia ditadura no mundo a igreja vivia numa ditadura, quando caiu a ditadura e veio a democracia, com ela toda sorte malefícios, a igreja também andou na onda dos desmandos.
È lógico que no tocante à IPB isso é uma infeliz má representação. O tempo do saudoso e controvertido Rev Boanerges Ribeiro não era de ditadura, pois ele foi eleito, cumpria mandatos renovados dentro da Constituição da Igreja. Mas é certo que tal como o mundo lá fora se vivia a onda de autoritarismo. Este reinava na igreja que não conseguia, tal como não consegue hoje, ser diferente. O mundo lá fora cultivava e demonstra gosto pelo autoritarismo, então sejamos brutais autoritários dentro de nossos arraiais.
Mas, se a onda hoje é reunir os inimigos pessoais e políticos do passado, acusados reciprocamente e sistematicamente de pilantragem, num saco de gatos, a igreja fica na obrigação de seguir o mesmo diapasão? Que interesses escusos pessoais podem abrigar no bojo de um mistura tão indigesta? Isso é triste.
Falta o que? Falta levar o Evangelho a sério em termos de conduta pessoal, limpa, coerente. Falta encarar a quarta ênfase do ser reformado. Referência ao desafio que Felipe fez a Natanael, quando dando apenas um pouco mais de explicações acerca de Jesus, tratou logo de convidá-lo a vir ver por si mesmo, o que Ele fez e faz. (Jo.1:45-46).”Vem e vê!”
O desafio de Felipe a Natanael não é para vim e ver shows com grupo de louvor pago a músicos profissionais. Não é para vim e ver verdadeiros milagres de impostura. Não é para vim e ver esperança de alcançar campo ministerial estável, boa condição financeira, dinheiro juntado a rodo e dando em árvores para pagar polpudas indenizações por pseudas injustiças cometidas. Não é para vim e ver auto elogios de que “quando estivemos em tal lugar fizemos isso ou aquilo” para a sua honra humana e pessoal e desprezo a companheiros ressaltando quão negligentes e incapazes são os que zelam pelo bom crescimento ordeiro para a Igreja de Deus. É para vim e ver mudança de vida que faz a Igreja simplesmente destoar do mundo.

terça-feira, 21 de julho de 2009

A IGREJA INTERPENETRADA PELO MUNDO.


TENTATIVAS DE ENSAIOS SOBRE A QUARTA ÊNFASE DO SER REFORMADO/1.

REFLEXÕES DIÁRIAS.
Visitando aqui e ali sites e perfis de orkuts de uns conhecidos, deparei com a enquete destinada aos jovens da IPB: “Por quem na IPB, em nível nacional, você é mais influenciado?” Qual não foi a minha surpresa quando vi meu nome postado por um jovem, logo abaixo do Rev Nicodemos Augustus Lopes como a segunda figura nacional que mais o influencia na IPB. E podem acreditar nisso, não foi combinado. Mas mesmo assim fico a lhe dever mais uma coca. Com isso fiquei estranhamente surpreso e contente. Ao mesmo tempo me imbuí de certa responsabilidade adicional, pelo menos em relação a uma pessoa, uma alma preciosa, lavada e remida no Sangue do Cordeiro, que afirma tem sido influenciada positivamente pelo que desde 1996, na Teonet/IPB, venho escrevendo e reflitido.
Lógico que não estou, nem um pouquinho, louco de querer me equiparar aos demais dessa lista numerosa. Dessa plêiade. Quem sou eu para me equiparar com gente do quilate de Antonio Elias, Guilhermino Cunha, Caio Fábio, Solano Portela, Ludgero Morais, Mauro Meister, o próprio Nicodemus... dentre os que mais influenciam na IPB? Não tenho a mínima pretensão de um dia me postar entre estes. Seria até completo demérito à lista. Seria de um mérito desproporcionalmente descabido, com o que ficaria senão somente constrangido, envergonhado... Para usar a “palavra mais certa”, obnubilado. Decerto que para tanto me falta acima de tudo competência e além de ‘otras cositas más’.
Então, ainda que consciente, portanto, dos fatos inexoráveis que envolvem e limitam essa realidade de mero pintor de paredes, amador, mesmo assim, fico como que desafiado a prosseguir. Prosseguir para onde, Cristão de Deus? “Para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fil. 3:14). Nada de “para frente e para o alto”, mas sim meramente “siga em frente” numa caminhada diária com Deus e com os homens.
No entanto ouso falar de uma minha firme convicção. Em virtude da falta de tempo não me tem sido possível escrever mais e disponibilizar textos que me cobram para que sirva de algum proveito, senão propósito, aos jovens (de todas as idades). Mas, meus diletos confrades na fé reformada, o pouco que escrevo, e quando o faço, com alguns textos deveras loooongos, não servirá para que com isso seja eu jogado na conta dos guias cegos guiando outros cegos, indo todos para o mesmo abismo. O que muito me gratifica.
Gratifica-me, outrossim, o comentário de um ilustre católico-romano. “Não concordo com absolutamente nada que você escreve, mas deleito-me com a forma como que expressa suas idéias, como que apresenta suas querelas. É simplesmente divertida”. Tem sido divertido também para mim, em todo esse tempo. Resta saber se o continuará sendo para certas figuras pálidas e peçonhentas que pretendo fustigar.
Tenho recebido conselhos de amigos, “deixa as figuras pálidas e peçonhentas pra lá, rapaz”. Certamente o faria se acima de tudo não fosse para mim o que é, divertido. Se, outrossim, não fosse divertido para os outros. Algo que no final do dia de batalha, estressado, cansado e triste, alguém pensaria, “vou ler algo para desanuviar um pouco, que tal um texto do Anamim?” Então o ilustre transeunte navegaria pelas palavras, daria umas boas risadas, e pensaria nas figuras pálidas e peçonhentas que estão a sua volta, longe ou perto, quero dizer, às voltas das voltas que o mundo dá. Leria algo que você devesse dizer na lata, mas não pôde, e teve de engolir, que então de repente pode dizer: “sobrou pra ti, figura pálida e peçonhenta!”, com o pensamento dirigido exatamente para esse seu conhecido que é crente e segue, na igreja e fora dela, o padrão do mundo perdido.
Acataria o conselho de desistir se, outrossim, não achasse que presto algum serviço, além do da pregação e ensino da Palavra, edificando o povo de Deus, alertando este para alguma presença sorrateira, enganosa, fraudulenta, pecaminosa, renitente, intransigente, recalcitrante... e por fim, negativa e deletéria.
Dizem “deixa pra lá, que, o que é ruim por isso mesmo se destrói” e “não vi ainda nada que seja flagrantemente inconstitucional prosperar no Supremo Concilio dá IPB, quanto mais no Supremo Concílio do Alto e Sublimo Trono do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Espera que um dia a matéria sobe para o julgamento definitivo. Pode esperar...” Creio nisso: no cuidado providencial pela Igreja do seu Redentor e Senhor, que pessoalmente está incumbido de “no meio dos candeeiros” prestar-lhe toda assistência que a seu tempo sempre chega.
Mas o que faremos enquanto não chega a “vassourada” que breve virá? Sim por que breve virá, e não tardará o dia em que a goiabeira se sacudirá pra o molde de queda dos frutos podres e de tudo quanto for penduricalho e enrosco que se agrega à planta e não é planta.
E isso precede a poda em que dará pra ti planta de erva de bicho, erva de passarinho, enforcadeira, tudo o que sois, em verdade, parasita e não planta. Dará pra ti galho seco, broto ladrão que sorve a seiva da planta com fraude e extorsão.
Depois da poda vem o cuidado do bom agricultor. Espera. Aguarda. Então dará pra ti broca - bicho desgraçado que ninguém mata senão pode matar a própria planta
Dará pra ti monstro invisível e gosmento que se incrusta na raiz da planta.
Aliás, tenho por ti broca ignominiosa, sentimento profundo de tristeza, de ressentimento e dano. Você se incrustou no meu pé de limão siciliano, e eu de tão desesperado, e inadvertido, enfiei óleo combustível queimado nas tuas fuças. Tu morreste, desgraçada, mas eu matei a planta. Meu lindo e querido pé de limão siciliano! O meu maior sentimento é o de que não fostes tu, broca maldita, que o mataste, mas o óleo queimado que este idiota usou. A medida extrema. Fui eu quem matei o meu pé de limão siciliano que tanta alegria me brindava com o suco de seus limões. Então agüenta a mão broca pálida e peçonhenta...
Eu agora sei: o problema com a medida extrema é que enquanto as medidas brandas não funcionam, em certos casos, essas funcionam demais. Então por amor a planta a gente deixa viver a broca entesourada para aquele grande dia.
Outrossim, e sobretudo, penso que sempre haverá oportunidade para o esclarecimento, tomada de consciência, mudança em relação à postura se ao lado da planta, ou lado das pragas e parasitas que a afetam.
Alguém pode examinar fatos bíblicos e pessoais e transcendentais e de repente, “oh, puxa vida, o que estou fazendo com a minha vida, eu não quero isso para minha vida. Como é que eu fico do lado da enforcadeira, da broca, da praga? Não. Quero ser a planta nem que para isso eu deva ser podada, machucada, espinhada. Sabe duma, vou mudar de lado... Sou honesto. Não sou tendencioso. Não sou incompetente nem burro nem nada... Vejo as pessoas movidas em meu redor por interesses escusos todos lesivos à planta. E eu sou a planta... Estou sendo animado por promessas de me dar bem e estou querendo crescer junto ao tronco como um vistoso galho ladrão. Me alio a quem é parasita e praga na planta? Não posso. Não consigo. Minha consciência... Minha consciência... Vou voltar. (Volto ao tema do “ladrão” logo em seguida (não percam...).
Igualmente, eu não pretendo, em função de minha timidez diante desses maiores expoentes de nossa igreja, ou de nossas relações eclesiais, de modo algum, vir a ser contado dentre as figuras pálidas e peçonhentas, vulgares, ávidas por espaço em concílios esvaziados da representação legitima, dado as pessoas escandalizadas. E essas pessoas são escandalizadas exatamente pelas imposturas de alguns de vida dobre, pautados pela falta de ética, de moral e de honestidade. Essas figuras pálidas e peçonhentas formam conjuntos de pessoas que não passam de grupelhos preocupados mais em expropriar e extorquir a igreja, o seu patrimônio, e conjugar o verbo faturar, lucrar, zombar, tripudiar e aproveitar.
Pessoas assim não expressam opinião. Não se alinham a qualquer corrente, muito menos à nossa CORRENTE PROTESTANTE ORTODOXA. Quando falam da boca para fora que o fazem negam-no com a sua postura, comportamento, falta de respeito pela Constituição da Igreja e, acima de tudo, pela Palavra de Deus.
Bem, esse assunto que trago, a quarta ênfase do ser reformado, tem tudo a ver com essa retórica chacro-agricultora. Não tem não somente a ver com as posturas de “uns” do nosso meio presbiteriano. (Lembra-se são pálidos, peçonhentos, alcoviteiros, aproveitadores, dissimulados, incompetentes, desavisados, estúpidos, manipulados, abestalhados, enganados, vitimas de vigaristas - ou os próprios - e de fazedores de promessas vãs ou traficantes de influência que pulalam o nosso meio denominacional, doravante serão mencionados apenas como “uns”, esses “uns”, aqueles “uns”, são os “uns” Certo?).
Tem a ver mais com “aqueles”, no mundo, que perderam de vez a compostura. Deixaram a máscara cair. Dizem abertamente a que vieram “para tirar vantagem” da situação. Reverter condição de descrédito perante a opinião pública que a bem pouco tempo lhes eram desfavorável e para tanto não tem a vergonha de reatar relações com quem antes só pensava em derrubá-los. Quem tudo fez para fulminar um e outro, agora se junta outro e um para fulminar a Instituição (Brasil) que ora os abrigam.
Se alguém achou que estou falando de alguém dentro da IPB, saiba que estou me referindo primeiramente ao Lula, Collor e Sarney – a classe política em geral – e a essas alianças espúrias, que minam a nossa nação - a planta. Esse comentário é político de um crente que acompanha a política. Alguma semelhança do que ocorre na IPB? Será mera coincidência?

quinta-feira, 9 de julho de 2009

SERIA BLASFEMO INVOCAR O NOME DE DEUS PARA ATRIBUIR À SUA VONTADE A DOR DESTA TRAGÉDIA?


Dias atrás, como sempre faço, compareci à reunião do grupo de estudo Liderança Cristã, aqui em Brasília, e, com muito interesse e grande satisfação, presenciei uma belíssima palestra com o tema "Paulo: Apóstolo do Cristo Ressuscitado", trazida pelo nosso irmão e amigo Professor Francisco Salatiel. Trata-se de excelente exegeta bíblico com formação inclusive em Roma, logicamente da quota dos católicos do grupo inter-confessional que tenho privilégio de fazer parte desde 1996. Acrescento um dentre muitos predicados pessoais, a sua experiência pastoral como sacerdote por importante tempo de sua vida, a partir do que se permitiu "retirar-se" para constituir família abençoada. Experiência igualmente rica compartilhada com uma rede de amigos pessoais seus, alguns, poucos, comuns, conhecida como "movimento ou comunidade padres casados".


A sua sobredita palestra, seguiu o fio condutor que perpassava pela contemplação da "visão secularizada de mundo", em voga nos dias de hoje contrastada com a do "mundo mediterrâneo" do 1° Século A.D., donde se discerne o pano de pano para o esposamento por parte de Paulo de idéias marcadas pelo estoicismo de Sêneca, de um lado, por sua condição de cidadão do Império Romano, e, por outro lado, pela visão apocalíptica judaica dada à de fariseu.


Nessa linha, não incidentalmente, traçou-se com maestria o "perfil do Apóstolo em coerência com as linhas fundamentais de sua pregação". Por conseguinte, destacam-se os traços marcantes na vida de Paulo. A sua experiência com o Senhor Ressurreto. A idéia paulina de que "a força da graça" se "realiza" ante a fraqueza humana. A visão ministerial do Apóstolo de "não dominar e destruir, mas edificar". O seu desprendimento em "pregar gratuitamente o Evangelho... se sustentando com o trabalho de suas mãos". E, por fim, a sua imitação de Cristo em carregar no seu próprio corpo a morte de Jesus.


A partir desses traços, indica-se como núcleo de sua teologia o poder que emana da experiência da Morte e da Ressurreição, cuja síntese seria, ao meu ver, a pregação do "Cristo e este crucificado".


Encerra dizendo que o mais importante em Paulo não era o pensar e falar mas o "ser em Cristo", ser uma "nova criação", coisa de gente adulta e responsável que se envolve no compromisso de "construir" um "mundo novo" pelo "poder do Esprito derramado em nossos corações (Rom. 5,5)".


Como se vê absolutamente tudo gratificante e de supino edificante.


Nessa altura alude à "realidade brutal e às vezes trágica da morte". Isso porque inicialmente dizia "parto de um acontecimento trágico que nos abalou a todos... o desaparecimento do vôo 447, da Air France na águas do Atlântico", com a perda de 228 vidas.


"Porque partir desse fato para a nossa meditação de hoje? É que precisamente nessas ocasiões, em que vida e morte se tocam, afloram nossa visão de mundo, nosso modo de pensar e sentir a existência. Perscrutar a fundo nossas crenças e convicções de leitores hoje dos textos paulinos possibilita-nos, sem dúvida, a atitude de escuta e abertura, para que não sejamos meros ouvintes, mas atores e praticantes da Palavra de Deus (Tgo 1,22)".


Agora sou eu quem falo. Não entendo por que certas pessoas dizerem não ver propósito nessas ocorrências brutalmente trágicas. Questiono se diante de apenas trivialidades, previsibilidades e de conseqüências normais ou comuns é aflorado o que se aflora na mente dos reles mortais? Será que diante do comum qualquer homem ou mulher pode-se ver como é em sua condição de mortalidade de fato reles?


A pergunta que ainda ecoa, porque com freqüência nos entristecemos ante essa realidade? Por que não respiramos mais "a atmosfera paulina de entusiastas convidados a entrar no cotejo triunfal" de I Tess. 4:17? "São tantos e tão momentosos os porquês que talvez seja a melhor resposta o silêncio aberto à escuta do que o Senhor pode nos ensinar ainda hoje...".


O silêncio cauteloso dos pobres mortais é importante, uma vez que o incidente, que parece inicialmente denotar a atitude de o homem transferir a sua responsabilidade pela tomada de decisão e correção de rumos para a tecnologia, nos faz sermos conduzidos à uma profunda reflexão com respeito aos novos parâmetros que vem sendo propostos pela ecologia holistica, em citação a Boff, L. em seu livro Ethos Mundial, Letraviva, Brasília/DF - 2000. Tai um propósito por demais nobre. Seguimo-lo.


Tais novos parâmetros ou conceitos "provocam governos e organizações civis para uma tomada de posição mais responsável e de respeito à natureza, com o objetivo de relativizar a hegemonia da mão invisível do mercado e da razão instrumental entronizados quais novos deuses".


Nesse sentido, é importante acompanhar o raciocínio compungido pela tragédia que o leva a questionar sabiamente a “visão secularizada do mundo”. O que levar a tragédias, ou pouco pode adiantar no sentido de evitá-las. Entretanto, a "a tecnologia criada pelo homem não esconde seus propósitos de sobrepujar e domesticar as forças da natureza. E quando isso não acontece num vôo transatlântico como o da Air France acidentado, volta-se para a máquina quase autônoma que falhou, para tantos e tão sofisticados instrumentos que não estavam mais sob o controle humano, a não ser indiretamente na automação gerada pela informática".


O pressuposto seria de que esse incidente e semelhantes têm causação imediata na falha do sistema de monitoramento e de imediata correção de rumos. Dos controles. Também acho que quem detém o controle pode até garantir com largo grau de probabilidade de que controlará (‘kiberneterá’!) no sentido de que a nave chegará ao seu destino e todas as vicissitudes intervenientes poderão ser dominadas. Para tanto haja todo o cabedal de conhecimentos e instrumentos à disposição do piloto. E para o auxilio deste, haja todos os cálculos, os mais meticulosos e complexos, são realizados instanteneamente. Hajam relatórios expedidos visualmente por telas de cristal líquido a contemplarem alternativas de solução. Haja o cálculo da melhor alternativa, ponderados os fatores ponderáveis, conhecidos e até desconhecidos. Por conseqüência falha o homem mas não haverá de falhar a máquina, e o pensamento imediato entrega ao chamado piloto automático e deixa acontecer o que acontecerá. Lasser faire, lasser passer. Perfeita a conexão entre a idéia da mão invisível do mercado e a razão instrumental. O que poderia dar errado? O homem acumulou tanto conhecimento, sistematizou tanto conhecimento e sobre os quais formulou tantos modelos, o que ainda poderá sair errado?


Ocorre que o homem ainda não inventou a máquina capaz de ao seu feitio ponderar o imponderável. Mas, para isso não precisa de máquina. O homem pondera o imponderável, e o deve fazer pela máquina. E ele o faz. Tai as suas preocupações, angústias, ansiedade, medos paralisantes, alguns até injustificáveis, e outros injustificáveis até que fatos supervenientes e inesperados para os outros acontecem.


Para quem crê, há um Deus imortal que também pondera o imponderável, para o mortal. Portanto, diante dessa demonstração de temeridade que é o homem desobrigar-se, negligenciar-se em função da máquina, esperava-se repor o lugar de Deus como pelo menos de espectador desses incidentes. E há quem o coloca como agente.


O irmão não o retira expressamente do papel de simples espectador no momento presente dos fatos. Coerente com os pensamentos de Suarez e Molina e corroborado com o de Armínio, eminentes teólogos cristãos, terá que admitir que Deus sabia antecipadamente o que viria acontecer. Mais do que isso, Ele teria todo o poder de evitar e não o fez por algum propósito escondido na impenetrável mente de Deus. Perder-se-ia a consolação saber que Deus sabe, vê, escuta e sente e deixa acontecer, não interfere, pois há um plano maior a ser seguido?


Esse pensamento diverge do de Agostinho corroborado com o de Calvino. Além de concordarem com o fato de que Deus sabe, ouve, vê e sente até antecipadamente todas as coisas, “desde toda eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou, livre e inalteravelmente, tudo quanto acontece; porém, de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias antes estabelecidas”. Além disso, “pela sua muito sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre e imutável conselho da sua própria vontade, Deus, grande Criador de todas as coisas, para o louvor da glória da sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e governa todas as suas criaturas, todas as ações e todas as coisas, desde a maior até a menor.”


Nesse caso, esta teologia faz de Deus um ator, um agente em meios às tragédias humanas e de fato, como bem lembrou o palestrante, isso aproxima do estoicismo, desenvolvido na época helenista, que teve em Sêneca uma das melhores expressões latinas, de que deriva a "convicção de que o homem faz parte de um todo, em que tudo está conectado e unido por uma ordem providencial. Cita-se Sêneca, “A providência comanda o universo e um deus se preocupa conosco”. E como bem observou o palestrante algo muito semelhante povoava a mente de Paulo quando, inclusive, dizia “Pois sabemos que todas as coisas trabalham juntas para o bem daqueles amam a Deus, a quem ele chamou de acordo com o seu plano” – Rom 8,28.


Daí por que algo soou um pouco estranho quando ouvi “seria blasfemo invocar o nome de Deus para atribuir à sua vontade a dor desta tragédia, como falar em milagre para os poucos que se salvaram por não terem partido. Na verdade, tudo se concentra no terra a terra, ou melhor no ar e mar das causas e efeitos imanentes às ações humanas e aos fenômenos naturais. É bem possível que no intimo dos familiares das 228 vitimas, tocados pelas preces particulares e publicas (na Candelária do Rio e em Notre Dame de Paris) o nome de Deus e de seu filho, Jesus Cristo tenha sido invocado não em vão, mas com a fé dos justos, reunidos na assembléia dos santos.”


Confesso que a palavra unívoca blasfemo me soou mais profundamente do que a expressão que me pareceu equivoca “tudo se concentra”. Ele quis dizer que todos os fatores se concentraram no terra a terra, no ar e mar, nas ações humanas e evitou qualificar esses fatores de determinantes e por isso confesso ter entendido que “tudo consiste”, tudo se resume, as fatores terreais ou aéreos e não afetam a esfera da morada de Deus.


Há, porém, quem extrapola esse pensamento. Entendem que por um momento se estivesse alijando de Deus de sua onipotência e onisciência e se admitindo que há coisas e causas que por inexistentes em determinado momento são indeterminadas e não são cogitadas por Deus, e que tudo acontece sem propósito algum. E Deus? Bem, de uma forma ou de outra temos que preservar em nossos pensamentos a santidade, a perfeição moral de Deus e por isso seria impensável que de alguma forma Deus pudesse pensar em algum mal para quem quer que seja e assim por algum motivo não puder envidar esforços pra evitá-lo.


De certo que esse pensamento moderno está em conflito com o de Paulo Apóstolo, não faz jus ao ensino da Escritura.


Então voltamos à pergunta: seria mesmo “blasfemo” invocar o nome de Deus para atribuir à sua vontade a dor desta tragédia, como falar em milagre para os poucos que se salvaram por não terem partido?


Bem, de qualquer sorte sai da reunião com o ensino de que temos mesmo que nos comedir em nossas declarações acerca das tragédias que nos assolam.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Igreja Reformada Holandesa e a Teologia do Apartheid na África do Sul.

1829 - A Confissão de Belhar tem como pano de fundo a história e a teologia racial, racista, segregacionista do apartheid na África do Sul. O ponto de referência comum em tudo isso, dentro do arcabouço histórico da igreja, é a Igreja Reformada Holandesa (DRC, ou NGK - http://www.ngkerk.org.za/). A separação com base na raça remonta a 1829. O Presbitério da Cidade do Cabo da DRC reunido em 29 de abril de 1829 para tratar de uma consulta da igreja local de Somerset West dizia respeito à administração da Santa Comunhão a quem se chamou de “pessoas de ‘cor’”. A pergunta a ser considerada era se “às pessoas de ‘cor’, que foram confirmadas e batizadas, devem ser concedidos, juntamente com os ‘cristãos nascidos de novo’ (pessoas brancas), fazer parte da Ceia do Senhor ou se estas pessoas devem tomar parte da Santa Comunhão separadamente.

- 1857 - No Sínodo de 1857 da DRC esta pergunta sobre a segregação ou não, foi tratada e pavimentou a forma pela qual na prática veio expressar a separação e o racismo da igreja. O Sínodo de 1857 expressou em linguagem ambígua que indicava claramente que não poderia seguir a risca os claros ensinos contidos nos princípios bíblicos. Disseram SIM tanto na questão de receber as “pessoas de cor” num mesmo corpo espiritual quanto a que eles deveriam tomar comunhão separadamente. Ante sua inabilidade em adotar posição qualificada sobre a matéria, abriu as portas para o apartheid eclesial e social. Na decisão do Sínodo da DRC se lê: 'O Sínodo considera desejável e de acordo com a Santa Escritura que os nossos membros ‘de cor’ (não-brancos) fossem aceitos e iniciados em quaisquer de nossas igrejas locais se isso fosse possível; mas aonde esta medida for adotada, como resultado da fraqueza de alguns, poderia obstaculizar a obra de Cristo entre as pessoas ‘de cor’ (heathen), em seguida as igrejas deveriam ser ajustadas às pessoas ‘de cor’, ou ainda ajustarem-se de modo que pudessem desfrutar dos privilégios cristãos em edificações ou instituições separadas”.

Esta decisão provocou “a solução final” para este problema de cor (heathen), com o estabelecimento da primeira igreja separada racialmente em 1881, chamada a Igreja da Missão Reformada Holandesa para as Pessoas de “cor” (DRMC- Sendingkerk). Depois de que a DRC puderam ser estabelecidas as igrejas racialmente separadas para os negros, que foi chamada Igreja Reformada Holandesa em África (DRCA), e para os indianos, a Igreja Reformada na África (RCA).

A teologia do apartheid entranhou-se na DRC, a qual foi clarificada quando o jornal oficial dela o “Kerkbode” escreveu em seu editorial em setembro de 1948, depois que o Partido Nacional chegou ao poder sobre a plataforma política do apartheid, “Apartheid é uma política da igreja”. Esta política significa na África do Sul, o supremacia branca e que todas as outras raças eram inferiores e deveram ser tratadas de maneira inferior. O resultado foi a opressão às pessoas inferiores não-brancas da África do Sul e da posição de privilégio dos brancos. A igreja (DRC) e o estado estavam ligados inextricavelmente em uma união não santa. O estado recebeu o revestimento protetor moral e teológico para as suas políticas injusta e do apartheid da DRC.

A resposta da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas (Agosto de 1982)
Após décadas de esforço do lado das igrejas reformadas negras para retificar a situação, o tema teologia e prática racial na África do Sul entrou em pauta na reunião da Assembléia Geral da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas (WARC) em Ottawa, Canadá (WARC - Agosto de 1982), por que a DRC, DRMC, DRCA e a RCA, eram membros da WARC. O Dr. Allan Boesak da então DRMC pediu à WARC para proferir um discurso sobre a situação na África do Sul. Em um discurso intitulado 'Ele nos fez todos, à exceção de...”, Dr. Boesak foi de encontro com o racismo e com o apartheid. Indicou que a WARC deve ter responsabilidade para com suas igrejas membros na África do Sul, que sofrem sob a teologia e a política do apartheid. Boesak pôs a DRC e outras igrejas reformadas brancas no meio deste debate, disse ele, “por conseguinte as igrejas brancas membros têm responsabilidade direta e o poder de mudar fundamentalmente a situação se quiserem. Devem ser dirigidas nos termos dessa responsabilidade e nos termos do desenvolvimento histórico do apartheid porque foi dirigido por essas igrejas. A WARC deve aceitar o desafio de dirigir-lhes o significado do apartheid como traição ao Evangelho e seja apresentado como indigno da tradição reformada”.

Em sua resposta, a WARC disse que: 'as Igrejas Reformadas Africanas Brancas através dos anos tem neste detalhe funcionado fora da própria política e da própria justificação teológica e moral para o sistema. O apartheid é conseqüentemente uma ideologia pseudo-religiosa tanto quando uma posição política. Deriva disso a sua justificação moral e teológica. A divisão das igrejas reformadas na África do Sul com base na raça e na cor está sendo defendida como uma interpretação fiel da vontade de Deus e da compreensão reformada da igreja no mundo'.

A WARC declarou que a situação na África do Sul constituiu-se em status confessionis – pelo que significa na compreensão da WARC acerca da matéria é impossível diferir sem seriamente abrutalhar a integridade de nossa confissão comum como igrejas reformadas.

Com base nesta situação, a WARC fez a seguinte declaração. “Declaramos com os cristãos reformados negros da África do Sul que o apartheid (desenvolvimento separado) é pecado, e que a justificação moral e teológica dele é uma falsificação do Evangelho e, em seu desobediência persistente à Palavra de Deus, uma heresia teológica”.

A DRMC em seu Sínodo no ano seguinte aos passos dados pela WARC declarou o seu status confessionis. A igreja concluiu que em uma situação como essa você tem que confessar de novo as verdades da Bíblia em confronto com à luz do pseudo-evangelho. A DRMC decidiu por redigir uma Confissão a fim fazê-lo. Era uma confissão em forma de conceito, que foi distribuído à toda a igreja inteira para os comentários e deveria ser finalizado no Sínodo seguinte a ser realizado em 1986. No Sínodo de 1986 da DRMC a Confissão foi aceita e se chamou a Confissão de Belhar de 1986. O nome Belhar na Confissão se refere subúrbio da Cidade do Cabo do mesmo nome aonde o Sínodo se reuniu. Esta confissão foi adotada também pelo DRCA. Quando a DRMC e a DRCA foram unificadas em 1994, dando forma a uma igreja nova, a Igreja Reformada Unida na África do Sul (URCSA -
http://www.ngkerk.org.za/VGKSA/Default.asp) transformou-se parte da base confessional da URCSA. Durante o Sínodo da DRMC em 1990, um monumento foi erigido e dedicado à ocasião da aceitação da Confissão de Belhar pelo então Moderador.
Re-dedicação do monumento de Belhar

Em 30 de setembro de 2006, o monumento Belhar monument foi re-dedicadoi pelo moderador do Sinodo Geral da URCSA, Prof. S. Thias Kgatla.
O monumento de Belhar é um dos locais históricos mais visíveis e mais importantes da Igreja Reformada Unida na África do Sul. Em 30 de setembro de 2006, o Conselho da Igreja Gestig (a igreja local mais antiga da URCSA) em cuja propriedade o monumento foi construído transferiu o local simbolicamente ao Sínodo Geral, para que cuidados especiais de preservação fossem adotados pela igreja em nível nacional.

E a DRC, ou NGK? Segundo o site
http://www.ngkerk.org.za/english/history.asp?button_pushed=2, desde 1994 o ideal de unificação com a Igreja Reformada Unida na África do Sul tem sido perseguido e concretizado em reuniões conciliares em conjunto entre a DRC a URCSA e RCA e há muita coisa ainda a ser feita para a plena unificação. Há questões teológicas outras a demarcar visíveis distinções. Mas é absolutamente alentador o fato de que ninguém mais defende ou justifica o apartheid. De fato, nas últimas décadas do Século passado, a DRC tem sofrido seriamente por causa do relacionamento igreja e sociedade, o que resultou na publicação do documento “Igreja e Sociedade” em 1990 e a rejeição um tanto tardia ao apartheid somente em 1998.
Muito recentemente, em 2007, a Reformed Church na América – RCA - http://www.rca.org/ - antiga Igreja Reformada Holandesa dos EUA, uma igreja bem liberal, bastante deferente de sua co-irmã CRCNA - http://www.crcna.org/ - não se fez de rogada e incluiu aos seus padrões confessionais a Confissão de Belhar, agora os símbolos de união “adotados” por lá não são mais três (Confissão Belga, Cânones de Dort e Catecismo de Heildelberg) mas 4, estes e mais a Confissão de Belhar.

Fontes: Informações dos sites mencionados.

A CONFISSÃO DE FÉ DE BELHAR


1. Cremos num Deus trino, Pai, Filho e Espírito Santo, que une, protege e cuida da Igreja por meio da Palavra e do Espírito, como tem feito desde a criação do mundo e o fará até a sua consumação.
2. Cremos em uma santa igreja cristã universal, na comunhão dos santos chamados de toda a família da terra.

Cremos:

- Que a obra reconciliadora de Cristo faz-se manifesta na Igreja enquanto comunidade de crentes reconciliados com Deus e uns com os outros (Efésios 2: 11-22);

- Que a unidade, portanto, de igual forma dom e obrigação à Igreja de Jesus Cristo; mantida através da obra do Espírito de Deus é ao mesmo tempo força vinculante e, simultaneamente, realidade a ser seriamente perseguida e desejada: à qual o povo de Deus deve continuamente ser incentivado a obtê-la (Efésios 4:1-16);

- Que esta unidade deve ser visível para que o mundo possa ver que a separação, inimizade e o ódio entre pessoas e grupos é pecado; o qual Cristo já o venceu, e como conseqüência qualquer coisa a ameaçar esta unidade não terá lugar na Igreja e deve ser resistida (João 17: 20-23);

- Que esta unidade do povo de Deus deve ser manifesta e ativa em várias formas: que nos amamos uns aos outros; que experimentemos, pratiquemos e persigamos a comunhão uns com os outros, que estejamos obrigados a doar-nos voluntariamente e alegremente para servir de beneficio e bênção de uns para com os outros; que compartilhamos uma só fé, tenhamos um só chamado, sejamos de uma só alma e de uma só mente; tenhamos um só Deus e Pai, sejamos cheios de um mesmo Espírito, sejamos batizados em um só batismo, comamos de um mesmo pão e bebamos de um mesmo cálice; confessemos um só nome, obedeçamos um só Senhor, trabalhemos para uma mesma causa, e compartilhemos de uma mesma esperança; juntos cheguemos a conhecer a altura, largura e a profundidade do amor de Cristo; juntos sejamos formados à estatura de Cristo, à nova humanidade; juntos conhecemos e suportamos as cargas uns dos outros, desse modo cumprimos a lei de Cristo que nos necessitamos uns aos outros e cresçamos uns com os outros; admoestando-nos e confortando-nos uns aos outros; que soframos uns com os outros por causa da justiça; oremos juntos; juntos sirvamos a Deus neste mundo; e juntos lutemos contra tudo o que possa ameaça ou estorvar esta unidade (Filipenses 2: 1-5; 1 Coríntios 12:4-31; João 13:1-17; 1 Coríntios. 1:10-13; Efésios 4:1-6; Efésios 3:14-20; 1 Coríntios. 10:16-17; 1 Coríntios. 11:17-34; Gálatas 6:2; 2 Cor. 1:3-4);

- Que esta unidade somente pode ser estabelecida em liberdade e não sob obrigação; que a variedade de dons espirituais, oportunidades, origens, convicções, bem como a variedade de línguas e culturas são, pela virtude da reconciliação em Cristo, oportunidades para o serviço mútuo e o enriquecimento dentro do visível povo de Deus (Romanos 12:3-8; 1 Coríntios. 12:1-11; Efésios 4:7-13; Gálatas 3:27-28; Tiago 2:1-13);

- Que a verdadeira fé em Jesus Cristo é a única condição para ser membro desta Igreja.

Portanto, rechaçamos qualquer doutrina:

- Que torne absoluta a diversidade natural ou a separação pecaminosa de pessoas de tal modo que esta absolutização obstaculize ou rompa a união ativa e visível da Igreja, ou inclusive aponte para o estabelecimento ou formação de uma Igreja separada;

- Que professe que esta unidade espiritual verdadeiramente está sendo mantida no vinculo da paz enquanto os crentes da mesma confissão, com efeito, estão sendo alienados uns dos outro para o bem da diversidade e em prejuízo da reconciliação;

- Que nega que a constante recusa a perseguir esta visível unidade como um dom sem preço seja pecado;

- Que explícita ou implicitamente sustente que a inferioridade ou qualquer outro fator humano ou social deve ser levado em consideração para determinar a membrezía da Igreja.

3. Cremos:

    • Que Deus confiou à Igreja a mensagem da reconciliação por intermédio de Jesus Cristo; que a Igreja é chamada para ser sal da terra e luz do mundo, que a Igreja foi chamada bem-aventurada por que é pacificadora, que a Igreja é testemunha tanto por palavras quanto por atos dos novos céus e da nova terra onde mora a justiça (2 Coríntios. 5:17-21; Mateus . 5:13-16; Mateus 5:9; 2 Pedro 3:13; Apocalipse. 21-22);
    • Que Deus por sua Palavra que dá vida e pelo seu Espírito triunfou sobre o pecado e a morte, e, portanto, também sobre a não reconciliação e o ódio, a amargura e a inimizade, que Deus por sua Palavra que dá vida e pelo seu Espírito capacitará a Igreja a viver em uma nova obediência a qual pode abrir novas possibilidades de vida para a sociedade e para o mundo (Efésios 4:17–6:23; Romanos 6; Colossenses 1:9-14; Colossenses 2:13-19; Colossenses 3:1–4:6);
    • Que a credibilidade desta mensagem é seriamente afetada e sua benéfica obra é obstaculizada quando é proclamada em uma terra que professa ser cristã, mas impõe a separação de pessoas sobre um fundamento racial promove e perpetua a recusa, o ódio e a inimizade;
    • Que qualquer ensinamento que tente legitimar tal separação forçada apelando em nome do evangelho, e não está preparada a aventurar-se pelo caminho da obediência e da reconciliação; mas ao invés disso, pelo do preconceito, medo, egoísmo e incredulidade, nega por antecipação o poder reconciliador do evangelho, deve ser considerada ideologia e falsa doutrina.

Portanto, rechaçamos qualquer doutrina

- Que em tal situação sancione em nome do evangelho ou da vontade de Deus a separação forçada de pessoas por motivos de raça e cor e desse modo de antemão obstrua e debilite o ministério e a experiência de reconciliação em Cristo.

4. Cremos:

  • Que Deus tem se revelado o mesmo que deseja seja alcançada a justiça e a verdadeira paz entre os homens;

  • Que Deus em um mundo cheio de injustiça e inimizade, é de uma forma especial o Deus do indigente, do pobre e do errado e chama a sua Igreja a segui-lo nisso;

  • Que Ele traz justiça aos oprimidos e dá pão aos famintos;

  • Que Deus liberta o prisioneiro e restaura a vista ao cego;

  • Que Deus ajuda ao oprimido, protege ao estrangeiro, ajuda aos órfãos e viúvas e obstrui o caminho dos ímpios;

  • Que a religião pura e imaculada para com Deus é visitar aos órfãos e às viúvas em seus sofrimentos;

  • Que Deus deseja ensinar à Igreja a fazer o que é bom e a buscar o que é correto (Deuteronômio 32:4; Lucas 2:14; João 14:27; Efésios 2:14; Isaias 1:16-17; Tiago 1:27; Tiago 5:1-6; Lucas 1:46-55; Lucas 6:20-26; Lucas 7:22; Lucas 16:19-31; Salmos 146; Lucas 4:16-19; Romanos 6:13-18; Amós 5);

  • Que a Igreja, portanto, deve ajudar às pessoas em qualquer tipo de sofrimento e necessidade, o que implica, entre outras coisas, que a Igreja deve testificar e esforçar-se contra qualquer tipo de injustiça, para que a justiça flua como cascatas de água e a honradez como uma corrente permanente;

  • A fim de que a justiça possa correr mais como águas de volumosas torrentes, e menos apenas como um arroio a fluir;

  • Que a Igreja como possessão de Deus deva parar aonde o Senhor parar, ou seja, ser contra a injustiça e a favor do oprimido, que em seguir a Cristo a Igreja deve testificar contra todos os poderosos e privilegiados que egoisticamente buscam seu próprio interesse e assim controlam e aniquilam os outros.

Portanto, rechaçamos qualquer ideologia

- Que possa legitimar formas de injustiça e qualquer doutrina que não esteja disposta a resistir tal ideologia em nome do evangelho.

5. Cremos que, em obediência a Jesus Cristo, sua única cabeça, a Igreja é chamada a confessar e a fazer todas estas coisas, ainda que as autoridades e as leis humanas possam proibi-las e castigos e sofrimentos venham por conseqüência (Efésios 4:15-16; Atos 5:29-33; 1 Pedro. 2:18-25; 1 Pedro 3:15-18).

Jesus é Senhor.

Ao único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, seja a honra e a gloria pelos séculos dos séculos.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

NOSSA IDENTIDADE - O QUE É SER REFORMADO? - PARTE 6



Juntando tudo



Pontuaram-se antes as três ênfases - doutrinalista, pietista e transformationalista – que freqüentemente são vistas como abordagens ou mentalidades. É importante observar que uma vida e uma teologia cristãs bem-equilibradas necessitam que todas as três ênfases sejam integradas. A ênfase doutrinalista por tender conduzir à
exclusividade e à inação. A ênfase pietista por tender conduzir ao individualismo e ao não-discernimento de umas dimensões mais amplas do cristianismo. A ênfase transformacionalista por poder-se conduzir a um inclusivismo exagerado que amacia a antítese entre Cristo e o mal. Cada ênfase, por si, tende para o orgulho e desvalorização descaridosa das outras duas ênfases. Uma chave ao ministério saudável encontra-se em viver com uma visão integrada, inteira da vida cristã.

Finalmente, esta declaração de identidade é descritiva ou prescritiva? A resposta é tanto uma como outra coisa. Esta declaração de identidade deve ser vista como uma descrição da fé reformada no seu melhor estilo, mas também pode ser uma chamada fervente para que se vivam mais inteiramente nesta visão bíblica.

Que Deus possa conceder à Igreja, conforme Paulo orou o “espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele [Cristo]” (Efésios 1:17).





Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém! (Efésios 3:20-21)

NOSSA IDENTIDADE - O QUE É SER REFORMADO? - PARTE 5


Como relacionamos o Evangelho com mundo:


A ênfase transformacionalista

Nessa ênfase, os reformados referem-se a uma determinada visão do relacionamento do Cristianismo com a cultura, a uma visão de mundo e vida. A questão para os transformacionalistas é: Como os cristãos se relacionam com cultura existente ao seu redor? Mais especificamente, como os cristãos promovem o Senhorio de Cristo na cultura e na sociedade? Como a igreja dirige o Evangelho ao mundo ao seu redor e evita o isolacionismo que tão freqüentemente tem caracterizado a igreja? Seis palavras ou frases ajudam a compreender esta dimensão do ser reformado.

1. Jesus é Senhor (Filipenses 2:11)

Estas palavras, naturalmente, aparecem fortemente na Bíblia. Paulo conclui grande hino em louvor a Cristo, “para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, ... e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Fil. 2:11). Uma outra frase bíblica que os reformados para marcar o mesmo ponto é “nosso Deus reina”.

Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina! (Isa. 52:7)

Esta afirmação que Jesus é Senhor assume significado particular no mundo moderno onde somos flagelados pelo dualismo, a devastadora separação entre o sagrado e o profano. A visão secular de mundo, no ar que se respira hoje, pode levar os cristãos a crerem que o mundo está rachado realmente em dois, rachado entre o que sagrado e o que é profano. Aconselha-se aos cristãos a terem seu pequeno Jesus para o seu pequeno mundo sagrado, mas o que se pede aos cristãos é que se aplique Jesus somente a esse mundo pequeno chamado “o sagrado”.

Quando os reformados ouvem tal argumento sagrado/secular, recordam as palavras de Jesus:

“Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mat. 28:18), e o ensino de Paulo que Deus “ressuscitando [a Cristo] dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir, não só no presente século, mas também no vindouro”. (Efésios 1:20-21).

Sob a liderança de Abraham Kuyper (retrato acima), os reformados rejeitam fortemente este dualismo secular/sagrado e declaram que Jesus é Senhor de tudo. Se a passagem mais conhecida do Catecismo de Heidelberg é a Pergunta e a Resposta nº 1 (“Qual é o seu único conforto na vida e na morte? Que eu pertenço... ”), a citação mais conhecida de Abraham Kuyper é, “não há uma polegada quadrada no domínio inteiro de nossa existência humana que Cristo, que é Soberano sobre tudo, não reclame: ‘É minha!’'”

2. Reino (Mateus 6:10)

O conceito de senhorio de Cristo sobre todas as coisas está relacionado intimamente com à ênfase bíblica e reformada sobre o reino de Deus. Jesus disse, o “`o tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos, e crede no evangelho'” (Marcos 1:14 - 15). Jesus ensinou muitas parábolas do reino. Jesus ensinou os cristãos a orarem, “venha o teu reino. Seja feita a sua vontade, assim na terra como no céu” (Mateus 6:10).

O reino de Deus é o governo de Deus sobre todas as coisas. Deus é rei. Ele é soberano. Ele reina.

Deus sempre governou, mas seu domínio foi vindicado e estabelecido uma vez e por todas na morte e na ressurreição de Jesus Cristo (Colossenses 1:15-20; Efésios 1:15-23).

O reino é tanto uma realidade presente como futura. É “agora” e “ainda não”. Jesus disse que o reino está à mão; também orou para que o reino viesse.

Em que pese o alto grau de alienação das igrejas reformadas pelo mundo afora, da IPB não se pode dizer que esteja tão marcada pela completa alienação quanto a participação em esforços do reino, ainda que seus esforços particulares tenham deixado muito a desejar.

Como fruto deste conceito do reino a IPB poderia desenvolver ou se engajar mais em um sem número de ministérios. A lista abaixo mostra o pouco do que se tem feito:
– Faculdades e escolas de propriedade ou mantidas pela igreja – Mackenzie etc;
- Hospitais filantrópicos – Rio Verde/GO;
– Abrigos ou orfanatos para crianças abandonados inclusive com deficiências físicas e mentais, alguns esparsos;
– Associação de cidadãos em prol da justiça pública – iniciativa pouco incentivada;
– Centros de desenvolvimento comunitários – também muito omitidos;
- Centros de aconselhamento cristão a casais, crentes e descrentes etc.

Os cristãos vivem na esperança de que o reino ainda não é. O olhar dos cristãos para frente não é apenas à derrota, mas ao banimento de Satanás, ao retorno glorioso de Cristo, e a um novo céu e uma nova terra onde não haja não mais choro ou destruição ou morte e onde, no nome de Jesus, todo joelho se curvará e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor.

Intimamente relacionado à ênfase acima, o reino como compromisso com a busca da justiça na sociedade. Muitas passagens das Escrituras conclamam os cristãos a buscarem a justiça, mas nenhuma é mais eloqüente do que a chamada de Miquéias a Israel:

Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus.(Mic. 6:8)

Por conseqüência à ênfase sobre o senhorio de Cristo e o reino de Deus que os reformados podem ser fortes promovedores de uma participação mais ampla na sociedade. E justiça é o que geralmente buscam os cristãos quando trabalham nestas áreas mais amplas. Os teólogos e filósofos falam sobre o relacionamento entre o amor e a justiça. Geralmente falando, os cristãos interpretam a chamada de Deus para amar como se aplica aos relacionamentos pessoais que os cristãos tem as pessoas dentro das comunidades em que vivem; enquanto que a justiça é algo que os cristãos podem procurar para todos os povos em toda parte. Alguns exemplos de busca da justiça são:
- Lutando contra leis ou práticas que causam a discriminação racial ou iniqüidades econômicas.
- Promoção de um apropriado equilíbrio entre punição, reabilitação e restauração no sistema judiciário penal.
- Promoção de políticas que aliviam o sofrimento, a pobreza, e a fome humanos e que dão esperança e oportunidade aos membros mais fracos da sociedade.

Uma advertência importante está colocada aqui. A justiça bíblica e a idéia de justiça como é usada no discurso político têm freqüentemente seguido diapasões bem diferentes. A justiça na sociedade em geral tende a focalizar direitos pessoais, o que alguém assim o entende, o que é devido a um indivíduo; no entanto a justiça na Bíblia, apesar de incluir certamente interesse aos direitos pessoais enraizados no status exaltado da pessoa humana como portador da imagem de Deus, exalta as noções do justiça, obediência à lei de Deus, a restauração dos relacionamentos, e correção de erros que conduzem à justiça e à paz. A justiça na Bíblia está ligada completamente com o reino de Deus e da nova ordem de justiça e paz de Deus.

3. Palavra e Obras (Tiago 2:14-17)

Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta. (Tiago 2:14-17).

Assim como uma compreensão bíblica da vida Cristã conduz rapidamente à igreja, assim uma compreensão bíblica da igreja conduz rapidamente à natureza da missão: palavra-e-ação da igreja. A missão da igreja tem um componente de palavra (proclamação); tem também um componente de obras (ação).
- A igreja proclama que Jesus é Senhor e conduz os ouvintes no bem-estar público.
- A igreja chama as pessoas à fé em Jesus Cristo e ajuda na restauração de refugiados..
- A igreja constrói o corpo dos crentes e promove a justiça na sociedade.
- A igreja tem presbíteros e diáconos.
A palavra e a ação seguem juntas na vida cristã e no ministério da igreja. A igreja não pode dividir o ministério da palavra e da ação, e certamente não pode escolher entre elas.

4. O Mandato Cultural (Genesis 1:27-28)

O mandato cultural é um termo que se ouve freqüentemente nos círculos kuyperianos, nos círculos reformados. O mandato cultural se refere especificamente a Genesis 1:27 - 28:

Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.

Este é um mandato, uma descrição de trabalho que Deus deu a Adão e a Eva no começo do mundo no Jardim de Éden. Deus deu a Adão e Eva uma posição de domínio sobre toda a terra, uma posição que incluía o poder nomear, que, de maneira significativa, é o poder de criar. Os seres humanos governam o mundo com Deus!

Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste: (Sl. 8:5-6)

O ponto aqui não é que os seres humanos estão no controle e podem fazer qualquer coisa que querem. O ponto não é que as pessoas podem dominar e explorar. É completamente o oposto. Os seres humanos foram apontados como encarregados; responsáveis por fazer muito mais do que Deus tem feito neste grande mundo. Os seres humanos são construtores, arquitetos, criadores!

O mandato cultural acompanha uma ênfase forte sobre a criação. Uma das coisas que flui diretamente de uma forte doutrina da criação e do mandato cultural é uma apreciação da ciência. Os cristãos reformado não tem a profunda suspeita da ciência (ou da educação de modo geral, pelo que é) como alguns cristãos tem. Deus revelou-se por meio de dois livros: o livro da Escritura e o livro da natureza. Do último livro, o salmista diz, “os céus proclamam a glória de Deus; e o firmamento as obras de suas mãos”. (Salmo 19:1). A ciência é uma maneira sistemática de “ler” o livro da natureza. Quando o livro da ciência parece opor-se ao livro da Escritura, os cristãos reformado releu e estudam ambos os livros para ver onde está a má leitura. Finalmente, estes dois livros não podem se contradizerem porque Deus é o autor de ambos.

O encargo ambiental é outra forte implicação do mandato cultural e de sua ênfase sobre a criação. “Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam.” (Salmo 24:1). Os cristãos são zeladores da terra e do ambiente. Este mundo não é nosso para fazer com ele o que nos apraz. É mundo de Deus, e ele apontou os seres humanos para serem seus encarregados, zeladores, e guardiães.


5. Educação Cristã (Provérbios 9:10)

“O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência” (Prov. 9:10)

Os reformados compartilham com todos os cristãos uma forte ênfase na educação cristã. Historicamente, a IPB, em particular, enfatiza a importância da educação cristã não somente no lar e na igreja, mas também nas instituições educacionais – ensino fundamental, médio e superior. Porque Cristo é o Senhor de toda a vida, inclusive todas as esferas da aprendizagem, toda a educação deve ser centrada em Deus. Nesta compreensão da integração da fé e da aprendizagem, Deus não deve ser deixado fora da educação em nenhum nível.

O mandato bíblico para a educação cristã, para integrar Cristo em todas os facetas da vida e aprender, talvez pode ser visto mais clara e belamente em Colossenses 1:15 - 17:

Este [Cristo] é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.

Conseqüentemente, as escolas de Cristã iniciadas por cristãs reformados são construídas sobre uma visão positiva: Aprender está enraizado em Cristo. Ao mesmo tempo, não são opostos à instrução pública. Como cidadãos públicos, os cristãos reformado são tipicamente suportes do sistema de instrução pública local; eles sustentam escolas cristãs e apóiam a cobrança de impostos para o sustento de escolas públicas. Muitas igrejas locais da IPB têm professores e estudantes em escolas cristãs e em escolas públicas.

Embora as escolas cristãs tenham isolado às vezes a comunidade da escola cristã de sua comunidade mais ampla, tal isolamento não é o objetivo e de fato não deve ser oferecida resistência a que haja uma volta ao normal. O mundo todo, e não apenas a igreja, é de Deus; e Deus, em sua graça comum, importa-se com todas as pessoas, mesmo com aquelas que não o conhecem. Os cristãos reformado tem convicções fortes sobre a educação cristocêntrica; têm também um forte interesse no bem estar de toda a pessoa.

6. Vocação Cristã (Efésios 4:1)

“Vivam de uma maneira que esteja de acordo com o que Deus quis quando chamou vocês” (Ef. 4:1 - NTLH). A vida inteira do cristão – não apenas no domingo e na igreja – é de divina vocação, uma resposta à chamada de Deus para seguir a Cristo. Num mundo onde todas as coisas devem pertencer a Cristo, os cristãos oferecem cada parte de seu viver - seu tempo, seu trabalho, seus dotes, sua criatividade, sua riqueza, sua recreação – a Deus como oferta ação de graças e de obediência.

Muitas pessoas que ouvem a palavra calvinista imediatamente pensam acerca “da ética do trabalho calvinista”, uma ética de trabalhar duro, honesto, e de orgulhar-se de um trabalho. É que o trabalho ético está enraizado na convicção calvinista de que todo o ser trabalho humano – chame-se de um emprego, uma carreira, uma vocação, tanto super-poderoso quanto simples, tanto altamente remunerado quanto não remunerado, é uma resposta à chamada de Deus e é parte do mandato de Deus de governar a terra e do comando de Cristo de segui-Lo.

Além de nosso trabalho diário, esta compreensão abrangente de Deus chama nossas vidas a produzir fortes e conscienciosos servidores do reino nos negócios, profissões, trabalho, lides domésticas, militância em organizações civis da sociedade, em organizações voluntárias, educacionais, cientificas, industriais, agricultura, serviço público em geral.. Esta ênfase sobre a vocação cristã é uma das razões pela quais as igrejas reformadas têm especial carinho pelas artes liberais cristãs em cada área educacional, da filosofia a medicina, da biologia aos negócios, é uma resposta à chamada de Deus. Este senso saudável de vocação cristã promove também um senso forte de comissariado – compromisso de usar sàbiamente o tempo, os talentos, os recursos, e a riqueza que Deus nos confiou.

NOSSA IDENTIDADE - O QUE É SER REFORMADO? - PARTE 4



Como experienciamos Deus no nosso viver diário da fé:



A ênfase pietista

É importante apontar mais uma vez que as três abordagens (doutrinalista, pietista e transformacionalista) se sobrepõem. Os cristãos não podem separar o que crêem, do como experimentam Deus em sua caminhada diária de fé, do como relacionam o Evangelho ao mundo. Mesmo assim, estas três abordagens captam ênfases diferentes não somente dentro da IPB, mas também na Igreja Cristã vista mais amplamente.

1. Relacionamento pessoal com Jesus. (Romanos 8:38-39)

Enquanto vivem os reformados são constantemente instados a se perguntarem “qual o seu fim supremo e principal?” e a responderem “O meu fim supremo e principal é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre!” – a primeira pergunta do Catecismo Menor de Westminster. Já em seus leitos de morte, seus pastores freqüentemente usam a primeira pergunta, e resposta, do Catecismo de Heidelberg para lembrá-los da essência de sua fé: “Qual é o seu único conforto na vida e na morte? Que eu não pertenço a mim mesmo, mas de corpo e alma, na vida e na morte, pertenço a meu fiel Salvador Jesus Cristo.”

A essência de nossa fé é o nosso relacionamento pessoal com Jesus Cristo. Conforme Paulo diz em Romanos 8,

Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. . (vv. 8:38-39)

Às vezes, a tradição reformada foi mal compreendida por enfatizar demais a “cabeça” - sabendo corretamente a doutrina – e não suficientemente o “coração” – nosso relacionamento pessoal com Cristo. Entretanto, o Catecismo de Heidelberg, os padrão confessional mais usado e mais amado na IPB, é cheio de referências a um relacionamento pessoal com Jesus Cristo, e é uma declaração profundamente pastoral e pessoal da fé. Entretanto, mais importante do que a reivindicação do catecismo, a fé cristã, em seu cerne, é a história de Deus que restaura os pecadores para um correto relacionamento com Ele através de Cristo.

Nem todos os cristãos e tradições de fé estão abertos e prontos para falar sobre seu relacionamento com Cristo desta maneira. De fato, como foi apontado na breve explanação da abordagem pietista, igrejas cristãs reformadas, na Europa, tem rompido com as igrejas do Estado quando estas se tornam muito liberal e embaraçam o que se convenciona chamar de “falar ao coração”. O mesmo fenômeno ocorre em relação a igrejas tradicionais nos EUA, Canadá etc. Muitas igrejas, de fato, hoje também relutam em chamar as pessoas para este encontro mais pessoal com Jesus Cristo. Enquanto os reformados vêem sempre a obra de Cristo a abranger mais do que o relacionamento pessoal do crente com Jesus Cristo, nunca o vêem como menos do que esta união pessoal com Cristo. Os reformados têm preocupação com a tendência do evangelicalismo de, às vezes, falar sobre de um relacionamento com Jesus de uma maneira que indevidamente estreita o espaço da vida cristã. A vida cristã é mais do que as minhas afeições internas, meus sentimentos sobre e para com Cristo.

O estado interior do crente pode, mas não necessariamente, ser o melhor ponto de referência para a obediência cristã. Especialmente em uma era terapêutica, dominada pela questão da felicidade e a auto-realização internas, os reformados são corretamente preocupados com o dizer “relacionamento pessoal com Jesus Cristo” para não compreender outras maneiras igualmente importantes e freqüentemente mais detalhadas de compreender e representar a vida cristã.

2. O Espírito Santo (Romanos 8:1-17)

O Espírito Santo é uma das três pessoas da Trindade Santa de Deus. Os cristãos bíblicos procuram uma apreciação apropriada e equilibrada para a obra de todas as três pessoas da Divindade. Além disso, os cristãos não somente enfatizam o trabalho de cada pessoa da trindade - Deus Pai na criação, o Filho na redenção, e o Espírito Santo na santificação – ressaltam também a unidade e a comunhão da vida divina e da maneira que as Escrituras revelam a Deus como a comunidade divina do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Certamente, na vida e na verdadeira comunhão com o próprio Deus, os cristãos vêem modelado a comunhão e o amor que se doam para os que foram criados e redimidos.

Dentro dessa comunhão trinitária, o Espírito Santo é mais santificador do povo de Deus e da vida e testemunho da Igreja. A obra do Espírito Santo é todo abrangente. O Espírito Santo é o doador da vida espiritual; é quem renova os crentes para serem como Cristo; é quem dá ao crente o seu fruto – amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio; e é quem concede dons a igreja para capacitá-la para o ministério. João Calvino e o Catecismo de Heidelberg oferecem uma teologia rica e vibrante do Espírito Santo. (Um teólogo século XIX referia-se a João Calvino como “o teólogo do Espírito Santo”). As confissões reformadas enfatizam especialmente essas obras do Espírito Santo:
- O Espírito Santo dá ao crente a fé salvadora e a nova vida espiritual.
- O Espírito Santo dá ao crente a segurança da vida eterna.
- O Espírito Santo renova o crente para ser como Cristo (a obra da santificação).
- Pela Palavra de Deus e pelo Espírito (uma combinação importante para os reformados), Cristo reúne a sua igreja. O Espírito Santo a edifica.
- O Espírito Santo está ativo nos Sacramentos, unindo-nos ao corpo e ao sangue de Cristo, lavando-nos de nossos pecados pelo sangue de Cristo, tornando efetiva a presença real de Cristo no batismo e na comunhão. Certamente, a adoração cristã somente é possível por causa da vida e obra do Espírito Santo na igreja.

Há quem muito freqüentemente associa o Espírito Santo com tipos particulares de piedade ou de dons extraordinários do Espírito Santo (curas, línguas, profecia). O ensino acerca do Espírito Santo acima apresentado demonstra claramente que a obra do Espírito Santo é detalhada, abrange cada aspecto da vida dos crentes, do ministério da igreja, e do propósito redentivo de Deus.

É importante dizer neste momento uma palavra sobre o papel da oração na vida cristã e na igreja. De acordo com o Catecismo de Heidelberg, a oração é a parte principal da gratidão, que Deus requer de nós. Os cristãos oram para pedir e agradecer a Deus os dons de sua graça e do Espírito Santo (Perg. e Resp. 116). O Espírito Santo é tanto o sujeito quanto o objeto da oração cristã. O Espírito Santo capacita os cristãos a orar e é o dom que vem aos que oram. Uma compreensão rica e vívida do Espírito Santo será acompanhada por uma compreensão e prática ricas e vívidas de oração.

Finalmente, um envolvimento rico e vívido com o Espírito Santo é visivelmente inseparável da adoração cristã. Adoração como envolvimento de Deus e de seu povo é, do começo ao fim, revestido pelo Espírito Santo. O Espírito Santo é central na compreensão reformada da presença real de Cristo nos Sacramentos e na pregação como encontro com Deus, através de seu Espírito. Adoração e renovação, onde quer que ocorre, é obra do Espírito Santo.

3. Gratidão (Colossenses 3:15-17)

Uma pergunta muito importante relacionada á vida cristã é: O que motiva o crente? Qual a disposição enraizada que reveste tudo em termos de vida cristã? A resposta da Bíblia, e a ênfase reformada, é gratidão – não é culpa, medo, obrigação da lei, mas gratidão. Toda a vida cristão é ação na direção de uma resposta: Obrigado!

Em Colossenses 3, aonde Paulo apresenta os princípios de nossa vida nova em Cristo, menciona três vezes ação de graças:

Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. (vv. 15-17, itálicos acrescidos)

É irônico que crentes que enfatizem a gratidão como fonte energizante de toda a disposição e ação cristãs possam ainda sejam seduzidos pelo legalismo – conformidade externa com o que pode ou o que não pode fazer – pois o legalismo desliga os crentes de Cristo. O legalismo leva à pessoa a se preocupar com o que a outra pessoa vê, e não com o que Deus vê. O espírito legalista está longe do espírito grato, longe da essência da ação de graças.

Tal legalismo por vezes contamina a piedade da IPB e deve ser reconhecido pelo que é: uma perversão, uma falha, um pecado a ser confessado, e uma contradição com o ensino bíblico central, a saber, que toda a obediência flui de um coração em que brota a gratidão.

Uma das características mais significativas do Catecismo de Heidelberg é a colocação de seu ensino sobre os Dez Mandamentos. Das três seções do Catecismo - Nossa Culpa, Graça de Deus, Nossa Gratidão – os Dez Mandamentos são colocados na seção da gratidão. Os cristãos não obedecem a Deus a fim de serem libertos de sua culpa ou a fim ganhar sua salvação. Obedecem porque Deus removeu suas culpas e lhes deu o livre dom da salvação. A obediência é a maneira do cristão se dizer grato pelo dom da salvação, não é a maneira de ganhar a salvação.

Vincular a obediência à gratidão não significa que a obediência é menos importante, e que o cristão deve somente obedecer a Deus nos dias em que se sente especialmente grato. O dever, a disciplina, a chamada, e a obrigação são ainda marcas importantes da piedade cristã. Mas a culpa, o medo, e o moralismo têm valor limitado como motivadores para a vida cristã. Toda a obediência finalmente deve fluir das veias mais profundas da gratidão, do coração agradecido.

4. A Igreja (Efésios 4:1-16)

Quando os reformados falam de vida cristã, bem rapidamente começam a falar de igreja. Os reformados defendem fortemente a idéia de que pertencer a Cristo é pertencer àqueles que pertencem a Cristo. Muitos cristãos têm noção falsa de que pode ser um cristão mas não ter nenhuma conexão à igreja, ao corpo de Cristo. Uma tendência que tem sido muito notada na cristandade norte-americana é a de reduzir indevidamente o espaço da vida cristã a um relacionamento pessoal com Jesus, e às afeições e sentimentos internos. Trata-se de um foco tão estreito que o torna demasiadamente interno e subjetivo, e freqüentemente desconectado da igreja. Quando um relacionamento pessoal com Jesus Cristo e a presença interna Espírito Santo for uma parte importante da experiência cristã, esse relacionamento com Cristo e o Espírito é encarnado na igreja, comunidade da aliança dos crentes, o filhos de Deus que Ele reuniu se reunindo.

A igreja como corpo de Cristo é estratégico no grande programa missionário de Deus. Ao invés da igreja existir para si e em si, ela para proclamar o Evangelho às nações e chamar os povos à fé e ao discipulado. Pedro vincula claramente a identidade da igreja com sua finalidade:

Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. (1 Pedro 2:9)

Quando as igrejas vivem menos para a sua própria segurança institucional e dão mais de si mesmo em prol da fé e obediência à missão de Deus, experimentam a bênção de Deus. O ensinamento de Jesus de que “quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á” (Mateus 16:25) aplica-se à igreja tanto quanto a indivíduos.

Igrejas que perdem suas vidas por causa de Cristo e se dedicam ao propósito missionário de Deus ao fim tem achado suas vidas. É também importante compreender que a igreja em que os crentes são conectados organicamente é uma igreja mundializada em toda sua história e diversidade. Estar em Cristo deve representar reconciliação um com o outro como uma comunidade inter racial e inter étnica de Deus. A justiça e a obra de reconciliação não são simplesmente uma opção para as igrejas escolhem perseguir, ele são uma marca fundamental da igreja como comunidade nova de Deus.

Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos {ambos: judeus e gentios} fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade. E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. (Efésios 2:14-18)

Os cristãos brasileiros tendem hoje a minimizar a importância de sua identificação com a igreja mundial. “Quem se importa com a igreja da história ou com a igreja mundializada?” Mas a igreja não foi inventada nos anos de 1980 no interior do Paraná ou no Século XIX, no Rio de Janeiro. A igreja deve se lembrar de sua profunda solidariedade com a igreja de todos os tempos e lugares. Um corretivo tão necessário ao individualismo extremado de nossa época é os cristãos verem o projeto de santificação pessoal menos como um projeto interno, individual, e mais como uma viagem em busca da conexão às práticas e hábitos universais comuns aos cristãos de toda a parte e durante toda a história. Tal solidariedade com a igreja e a apreciação universal da tradição não inibe a mudança e a inovação na igreja. Um princípio reformado chave é que “a igreja reformada está sempre reformando”. A própria Reforma foi uma reforma e renovação radicais da igreja, e assim, a igreja vem de lá pra cá sempre se reformando, e renovando-se, morrendo e levantando-se. A igreja como um organismo vivo, conectado vitalmente a Cristo como ramo da videira é, por definição, sempre crescendo e sempre mudando.

5. Palavra e Sacramentoo (Romanos 10:14-15; Mateus 28:16-20; e 1 Coríntios 11:23-26)

A adoração pública é uma das principais maneiras pelas quais os cristãos nutrem sua fé e seus relacionamentos com Deus. Para os reformados, o cerne da adoração cristã é a pregação da palavra e a celebração dos Sacramentos. É significativo que os ministros na IPB são ordenados ao ministério da Palavra e dos Sacramentos.

Os reformados têm em alta conta a pregação. A pregação não é somente uma palestra em que o pregador fala sobre Deus; é um encontro encarregado pelo Espírito com Deus em que o pregador, na leitura da Escritura e em na pregação, proclama-se a Palavra de Deus. Os reformados falam realmente do sermão como Palavra de Deus para ressaltar o significado revelacional da pregação no contexto do culto público. Nesta conexão, é significativo que no culto reformado o Espírito Santo é tradicionalmente invocado não somente no contexto dos Sacramentos mas também no contexto da leitura e da pregação da Palavra (a oração pela iluminação).

Assim como a renovação do interesse pela adoração ocorre ao redor do mundo e dentro da IPB, há também um interesse renovado pelos Sacramentos, a comunhão e o batismo. É importante notar duas ênfases particulares de reformados quando vem aos Sacramentos. Primeiramente, os reformados procuram reconhecer e comemorar todos os temas bíblicos associados a cada Sacramento. Assim como um diamante tem muitos lados e ângulos diferentes a serem vistos, cada Sacramento é visto na Escritura de muitos ângulos diferentes.

Por exemplo, o batismo esta ligado à discipulado (Mateus. 29:19), ao dom da salvação (Marcos 16:16), a recepção do Espírito Santo (Lucas 3:16; Atos 8:16; 10:44 - 47), novo nascimento (João 3:3), perdão e lavagem (Atos 2:38; 22:12), morte e ressurreição com Cristo (Romanos 6:4; Colossenses 2:8), incorporação à igreja (1 Cor. 12:13), as novas vestes em Cristo (Gálatas 3:27), e a unidade do corpo (Efésios 4:5).

A Ceia do Senhor está ligada também a muitos temas da Escritura, tais como a renovação da aliança (Ex. 24:8), ações de graças, perdão, esperança escatológica da festa no céu (Mateus 26:26 - 29), remissão (Marcos 4:12), nutrição espiritual (João 6:35), memorial (1 Cor. 11:24), e proclamação (1 Cor. 11:26). A tradição reformada busca reconhecer e comemorar todas essas dimensões bíblicas dos Sacramentos.

Uma segunda ênfase reformada com respeito aos Sacramentos é o lugar que se reconhece à atuação de Deus. Cada sacramento envolve ação de Deus e a nossa ação. Mas os reformados enfatizam a ação de Deus em ambos os Sacramentos: a maneira pela qual Deus, em sua graça, promete, proclama, nutre, sustenta, conforta, desafia, ensina, e assegura. Por outro lado, os Sacramentos são mais do que apenas um exercício à parte do cultuador. São celebrações pelas quais, com o poder do Espírito Santo, Deus está presente entre nós e ativamente nutre a nossa fé e nos atrai para mais perto dele. São os meios pelos quais Deus vem a nós realmente em graça.

As pessoas ao redor do mundo estão hoje com fome de mistério e de transcendência, espalham muitas novas formas de espiritualidade. Até mesmo muitos cristãos anseiam por despertamento e transcendência no culto; anseiam ver o poder de Deus no culto e experimentar sua presença divina de modo real e poderoso Em tal mundo, os reformados têm em sua própria tradição de adoração uma ênfase sobre a palavra e os Sacramentos que destaca o grande compromisso entre Deus e o seu povo que ocorre na adoração cristã no poder do Espírito Santo.